The Man in the High Castle, a série televisiva enigmática que, na 2.ª temporada, promete continuar a provocar e a inquietar os telespectadores, ao satirizar a diva Marilyn Monroe, sex symbol da pop culture dos anos 50-60, através do encenar da versão alternativa dos Parabéns a Você mais famosos e sedutores da História – entoados no antigo Madison Square Garden –, inerentes ao cantar de «Happy Birthday Mine Führer» ao invés do «Happy Birthday Mr. President» destinados ao desventurado John Fitzgerald Kennedy (JFK).
Nem a estátua da liberdade escapou, perdeu o brilho do seu faixo, assumiu as poses da saudação ou continência Nazi, que é como quem diz "Heil Hitler" e "Siegh Heil", bem como "levou" com as insígnias e a iconografia do poder criadas pelo nacional-socialismo alemão.
High Castle constitui a distopia, ficção-científica e thriller exuberante sobre a versão alternativa da História caso as principais potências do eixo, a Alemanha Nazi e o Império Japonês tivessem vencido a 2.ª Guerra Mundial.
A série é inspirada – diferente de adaptada – no romance homónimo O Homem do Castelo Alto, de 1962, do autor Philip K. Dick, que inclusive inspirou alguns filmes de culto: Blade Runner, Total Recall, Minority Report e The Adjustment Bureau. Tal notoriedade faz com que Ridley Scott – famoso produtor e realizador de Hollywood – conste dos seus produtores executivos.
High Castle é produzida e distribuída através dos canais e meios de streaming da Amazon, empresa comercial eletrónica norte-americana. Os 10 episódios da 2.ª temporada estreiam a 16 de dezembro.
The Man in the High Castle vislumbra a total inversão da História, situando a trama noir no início dos anos 60.
Na nova ordem mundial foram os EUA a capitular e a serem ocupados pelas forças estrangeiras, em vez da Alemanha e do Japão. Formaram-se governos colaboracionistas que revisitam a França do governo e regime de fachada de Vichy.
Na costa leste Atlântica constitui-se o Greater Nazi Reich, com capital na cidade de Nova Iorque, enquanto na costa oeste estabeleceram-se os Estados Japoneses do Pacífico, com capital na cidade de S. Francisco. Os nipónicos e os nazis acordaram a criação de uma zona neutra desmilitarizada, delimitada pela fronteira natural das Montanhas Rochosas, destacando-se Canon City como o principal meio urbano da região onde literalmente impera a lei do Wild West.
Na atmosfera de Guerra-Fria que se seguiu à 2.ª Guerra Mundial, a escalada da tensão político-militar bipolar e a respetiva corrida aos armamentos já não são protagonizadas pelos EUA e pela URSS – a outra grande potência derrotada no universo High Castle, remetendo para a morte de Josef Stalin, em 1949 –, mas sim por uma facção das altas lideranças da Alemanha Nazi, descontentes com a política de coexistência pacífica defendida por Adolf Hitler, desejosas de demonstrar a sua supremacia tecnológica, militar e civilizacional face ao império nipónico temerário e receoso. Mais. Entre os notáveis do "Estado-Maior" alemão, Joseph Goebbels, Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich formam uma espécie de triunvirato, à procura da melhor posição e estratégia para suceder ao Führer "decrépito".
O final da 1.ª temporada termina mesmo com a vasta conspiração e golpe de estado falhado de Reinhard Heydrich, principal arquitecto do holocausto e líder temível das SS (Secções de Segurança), bem como da Gestapo e da Kripo, retratado na série como Oberst-gruppenführer.
A corrida nuclear foi ganha pelos Nazis que lançaram a bomba atómica – "grande bomba" – sobre Washington DC, facto que lhes permitiu vencer a guerra em 1947. No lugar do Projeto Manhattan figura o "dispositivo de Heisenberg", cobiçado pelo império japonês com o intuito de conseguir rivalizar e equiparar-se em força ou poderio bélico.
Os anteriores EUA convertem-se no palco principal da ação geopolítica e geoestratégica mundiais. Em termos simbólicos e de paralelismo histórico, por antonomásia, a zona neutra afigura-se como o novo "muro de Berlim" ou a "cortina de ferro".
A Resistência desmembrada sobrevive acantonada na zona neutra, consciente da dificuldade ou impossibilidade da missão de sabotar e destronar duas forças políticas e militares totalitárias.
No lugar do capitalismo e da globalização figura a internacionalização da ideologia e propaganda do partido Nazi ou império nipónico a par do culto do Estado e do líder, Imperador ou Führer.
No caso japonês são mais moderados, na lógica de aculturação.
Relativamente ao lado alemão as atitudes do regime são mais repressivas, arregimentadoras e endoutrinadoras.
No caso japonês são mais moderados, na lógica de aculturação.
Relativamente ao lado alemão as atitudes do regime são mais repressivas, arregimentadoras e endoutrinadoras.
As emblemáticas Times Square em Nova Iorque e a Union Square em S. Francisco perdem o seu marketing e efeito do show multimédia publicitário de diversas marcas comerciais, "profanadas" com a propaganda dos símbolos, slogans e iconografia do poder totalitário.
Bem-vistas as coisas os sinais do capitalismo não desaparecem de todo, subsistem no design Hugo Boss das fardas dos oficiais das SS e SA (Secções de Assalto), bem como de marcas alemãs, como por ex., os automóveis Mercedez-benz, etc... demonstrativas da sua supremacia industrial.
A suástica torna-se omnipresente, "Heil Hitler" e "Siegh Heil" são como quem diz olá, bom dia e boa tarde, a "Juventude Hitleriana" é como ser adepto deste ou daquele clube de futebol, o racismo, xenofobia, anti-semitismo, pangermanismo, pureza racial e a superioridade da raça ariana fazem parte da mundivivência quotidiana.
Os judeus foram exterminados na Europa, os campos de concentração e de trabalhos forçados foram exportados, conduzindo a uma ampla política de genocídio e extermínio no pós-guerra, os incapacitados, deficientes e doentes crónicos contam com um sistema de saúde e terapias eficientes com direito a injeção letal (eutanásia) e forno crematório porque a economia e sociedade não se podem dar ao luxo de sustentar parasitas, todo a África foi escravizada, condição destinada às raças selvagens e sub-humanas. O mundo ameaça tornar-se num "paraíso" ariano Nazi.
As religiões, a leitura da Bíblia e todas as formas de culto, espiritualidade e literatura consideradas anti-regime estão proibidas. A liberdade de imprensa, expressão, associação e opinião encontram-se cerceadas.
O 4 de Julho/Dia da Independência (1776), o Thanksgiving Day, o Natal, foram substituídos pelo Dia da Vitória, com o mundo de olhos e ouvidos postos em Berlim, no discurso do Führer e na parada militar magistral.
O ambiente é hostil. A atmosfera é de suspeição. O clima é de intimidação, censura e de domínio pelo medo.
Entre os principais antagonistas figuram o Inspetor-Geral Kido (Joel de la Fuente), chefe do Kempeitai nos Estados Japoneses do Pacífico, e sobretudo John Smith, o Obergruppenführer das SS, no Greater Nazi Reich, interpretado pelo ator famoso Rufus Sewell, duas personagens criadas a preceito para a série, com finalidades dramáticas e de intensificação do suspense, radicadas no braço armado, de vigilância e repressão ideológica do Partido Nazi, as SS, e no seu congénere japonês, o Kempeitai, braço político-militar do Exército Imperial Japonês.
Rufus Sewell empresta grande dinamismo a The Man in The High Castle através da representação experiente, competente e meticulosa. "Rouba a cena". Um ator com predileção para papéis de mauzão, mas ambivalente porque não sabemos se a maldade é total e gratuita ou se existe um fundo bondoso humanista prestes a despertar.
John Smith é o dirigente paramilitar do Alto Comando Nazi na cidade de Nova Iorque, reporta diretamente a Berlim, manifesta extrema dedicação ao serviço do Estado, à ideologia do Partido e ao culto do Führer.
Eventualmente acaba por ser visitado pelo drama familiar pessoal que expõe o horror das suas convicções. O seu filho sofre de uma doença ou deficiência congénita incurável que dá direito à tal terapia espartana, eficiente e definitiva, da injecção letal, sentença de morte. Será esse o motivo que o levará a mudar a sua cosmovisão ontológica e axiológica, a questionar o regime, manter-se-á fiel ao Nazismo ou o facto de ter provado a sua lealdade a Adolf Hitler durante a intentona de Reinhard Heydrich – que anteriormente tinha criado uma emboscada/armadilha para assassinar John Smith –, acabando mesmo por feri-lo e prendê-lo, "comprou-lhe" o favor da exceção à regra para o seu filho?
No meio de toda a opressão bipolar existem os filmes enigmáticos produzidos pelo incógnito The Man in the High Castle, signos de esperança e de motivação, que parecem desmascarar as ideologias opressivas e totalitárias, plasmando a sabedoria e a ousadia salomónicas do livro de Eclesiastes de "olhar para além do sol"!
Demonstram a realidade alternativa, a História e cronologia que conhecemos, com a vitória dos Aliados, revisitam imagens documentais das Conferência de Ialta e Potsdam. A Resistência busca esses filmes para obter esclarecimento e perspetiva. As SS e o Kempeitai consideram-nos subversivos, procuram confiscá-los e retirar de circulação. De forma bizarra o seu maior cobiçador e colecionador é o próprio Adolf Hitler, o "vovô Führer".
Será que os filmes representam um signo de liberdade autêntico ou apenas o chamariz para que os "serviços secretos" capturem os subvertidos e insurgentes? Ou talvez a explicação seja ainda mais transcendente?
No final da 1.ª temporada, de forma paradoxal e surreal, a essência dos filmes transforma-se. Deixam de retratar o passado, vislumbram o futuro sombrio, ao incluirem nas filmagens, de forma presciente, as personagens principais da série, mostrando a cidade de S. Francisco a ser obliterada por uma bomba atómica.
Face à magnitude do enredo de High Castle, não poderia faltar a intriga de fundo amorosa. Nesse sentido, a frágil atividade da Resistência mistura-se com a tensão e as dúvidas instaladas entre o trio romântico formado por Juliana Crain (Alexa Davalos) Frank Frink (Rupert Evans) e Joe Blake (Luke Kleintank), os protagonistas contra-mundum da série, todos dotados de motivações pessoais e de habilidades suscetíveis de serem recrutados ou coniventes com a Resistência.
Mas a intriga é mais complexa do que isso. Estas três personagens chave são autónomas, trilham o seu próprio caminho, gravitam entre os três lados da barricada – Nazis, Japão ou Resistência –, revelam progressivamente os contornos que desvendam os mistérios, sem nunca sabermos quem será o próximo aliado ou traidor.
Juliana é versada na arte-marcial do Aikido. Tornou-se guardiã dos filmes depois de a sua irmã lhe ter confiado a salvaguarda de uma das películas, imediatamente antes do evento trágico do seu "aparente" assassinato a sangue-frio às mãos do Kempeitai, presenciado na primeira pessoa por Juliana. Recrutada pela resistência Juliana torna-se numa espécie de "Cavalo de Tróia" ao conseguir emprego no edifício do Governo Japonês de S. Francisco.
Frank Frink é o namorado de Juliana, de ascendência judaica, aprisionado e coagido pelo Kempeitai face à sua condição étnica, racial, individual e familiar, para revelar o paradeiro de Juliana depois de ela fugir para a zona neutra com um dos filmes cobiçados, resultando no horror pessoal de constatar que a sua irmã e sobrinhos foram gaseados/mortos às mãos do Kempeitai. Frank segue o caminho turbulento e atormentado de conspiração para assassinar o Príncipe herdeiro japonês que acaba por ser baleado pelos Nazis interessados em provocar um ato de guerra conducente ao conflito entre as duas superpotências.
No desenvolvimento da trama complexa, cheia de estórias cruzadas – cuja compreensão total implica ver a 1.ª temporada –, envolvendo inclusive a criminalidade underground e os negócios obscuros da Yakuza, o Kempeitai interessado em abafar ou encobrir o caso porque o Japão não é capaz de travar e vencer tamanho conflito bélico, aproveita a oportunidade de culpar Frank como o "bode expiatório" do incidente, mas nessa intriga policial a cabeça que rola é a de Ed McCarthy (DJ Qualls), o melhor amigo e colega de trabalho de Frank.
Joe Blake é um agente secreto Nazi que atua sob disfarce, encarregado de rastrear e apreender os filmes subversivos, bem como identificar, informar e até mesmo matar os elementos da Resistência que encontrar pelo caminho. Reporta diretamente ao Obergruppenführer John Smith.
De alguma forma, os seus sentimentos ou paixão por Juliana que acaba por conhecer numa das suas missões na zona neutra, assim como o visionamento dos filmes, convertem-no num autêntico agente duplo que gravita entre o controlo e obediência exigidos pelos Nazis e os interesses da rebelião.
No restante elenco base merece destaque Nobusuke Tagomi (Cary-Hiroyuki Tagawa), o Ministro do Comércio japonês em S. Franciso, praticante da religiosidade milenar ou espiritualidade mística e oráculo do I Ching, que tenta dotar o império com os meios para sobreviver à ameaça real da formação de um Reich universal. Talvez seja a personalidade mais humanista de toda a trama.
Inspirada na obra-prima de Philip K. Dick, descrita pelo realizador Ridley Scott como "ficção-científica eletrizante e atordoante" contendo "muitas estórias dentro de uma só estória", a série acaba por ser a sua reinterpretação arrojada que materializa diferenças mais ou menos substanciais, mas mantém o espírito distópico do "conto" pós-moderno.
O 4 de Julho/Dia da Independência (1776), o Thanksgiving Day, o Natal, foram substituídos pelo Dia da Vitória, com o mundo de olhos e ouvidos postos em Berlim, no discurso do Führer e na parada militar magistral.
O ambiente é hostil. A atmosfera é de suspeição. O clima é de intimidação, censura e de domínio pelo medo.
Entre os principais antagonistas figuram o Inspetor-Geral Kido (Joel de la Fuente), chefe do Kempeitai nos Estados Japoneses do Pacífico, e sobretudo John Smith, o Obergruppenführer das SS, no Greater Nazi Reich, interpretado pelo ator famoso Rufus Sewell, duas personagens criadas a preceito para a série, com finalidades dramáticas e de intensificação do suspense, radicadas no braço armado, de vigilância e repressão ideológica do Partido Nazi, as SS, e no seu congénere japonês, o Kempeitai, braço político-militar do Exército Imperial Japonês.
Rufus Sewell empresta grande dinamismo a The Man in The High Castle através da representação experiente, competente e meticulosa. "Rouba a cena". Um ator com predileção para papéis de mauzão, mas ambivalente porque não sabemos se a maldade é total e gratuita ou se existe um fundo bondoso humanista prestes a despertar.
John Smith é o dirigente paramilitar do Alto Comando Nazi na cidade de Nova Iorque, reporta diretamente a Berlim, manifesta extrema dedicação ao serviço do Estado, à ideologia do Partido e ao culto do Führer.
Eventualmente acaba por ser visitado pelo drama familiar pessoal que expõe o horror das suas convicções. O seu filho sofre de uma doença ou deficiência congénita incurável que dá direito à tal terapia espartana, eficiente e definitiva, da injecção letal, sentença de morte. Será esse o motivo que o levará a mudar a sua cosmovisão ontológica e axiológica, a questionar o regime, manter-se-á fiel ao Nazismo ou o facto de ter provado a sua lealdade a Adolf Hitler durante a intentona de Reinhard Heydrich – que anteriormente tinha criado uma emboscada/armadilha para assassinar John Smith –, acabando mesmo por feri-lo e prendê-lo, "comprou-lhe" o favor da exceção à regra para o seu filho?
No meio de toda a opressão bipolar existem os filmes enigmáticos produzidos pelo incógnito The Man in the High Castle, signos de esperança e de motivação, que parecem desmascarar as ideologias opressivas e totalitárias, plasmando a sabedoria e a ousadia salomónicas do livro de Eclesiastes de "olhar para além do sol"!
Demonstram a realidade alternativa, a História e cronologia que conhecemos, com a vitória dos Aliados, revisitam imagens documentais das Conferência de Ialta e Potsdam. A Resistência busca esses filmes para obter esclarecimento e perspetiva. As SS e o Kempeitai consideram-nos subversivos, procuram confiscá-los e retirar de circulação. De forma bizarra o seu maior cobiçador e colecionador é o próprio Adolf Hitler, o "vovô Führer".
Será que os filmes representam um signo de liberdade autêntico ou apenas o chamariz para que os "serviços secretos" capturem os subvertidos e insurgentes? Ou talvez a explicação seja ainda mais transcendente?
No final da 1.ª temporada, de forma paradoxal e surreal, a essência dos filmes transforma-se. Deixam de retratar o passado, vislumbram o futuro sombrio, ao incluirem nas filmagens, de forma presciente, as personagens principais da série, mostrando a cidade de S. Francisco a ser obliterada por uma bomba atómica.
Face à magnitude do enredo de High Castle, não poderia faltar a intriga de fundo amorosa. Nesse sentido, a frágil atividade da Resistência mistura-se com a tensão e as dúvidas instaladas entre o trio romântico formado por Juliana Crain (Alexa Davalos) Frank Frink (Rupert Evans) e Joe Blake (Luke Kleintank), os protagonistas contra-mundum da série, todos dotados de motivações pessoais e de habilidades suscetíveis de serem recrutados ou coniventes com a Resistência.
Mas a intriga é mais complexa do que isso. Estas três personagens chave são autónomas, trilham o seu próprio caminho, gravitam entre os três lados da barricada – Nazis, Japão ou Resistência –, revelam progressivamente os contornos que desvendam os mistérios, sem nunca sabermos quem será o próximo aliado ou traidor.
Juliana é versada na arte-marcial do Aikido. Tornou-se guardiã dos filmes depois de a sua irmã lhe ter confiado a salvaguarda de uma das películas, imediatamente antes do evento trágico do seu "aparente" assassinato a sangue-frio às mãos do Kempeitai, presenciado na primeira pessoa por Juliana. Recrutada pela resistência Juliana torna-se numa espécie de "Cavalo de Tróia" ao conseguir emprego no edifício do Governo Japonês de S. Francisco.
Frank Frink é o namorado de Juliana, de ascendência judaica, aprisionado e coagido pelo Kempeitai face à sua condição étnica, racial, individual e familiar, para revelar o paradeiro de Juliana depois de ela fugir para a zona neutra com um dos filmes cobiçados, resultando no horror pessoal de constatar que a sua irmã e sobrinhos foram gaseados/mortos às mãos do Kempeitai. Frank segue o caminho turbulento e atormentado de conspiração para assassinar o Príncipe herdeiro japonês que acaba por ser baleado pelos Nazis interessados em provocar um ato de guerra conducente ao conflito entre as duas superpotências.
No desenvolvimento da trama complexa, cheia de estórias cruzadas – cuja compreensão total implica ver a 1.ª temporada –, envolvendo inclusive a criminalidade underground e os negócios obscuros da Yakuza, o Kempeitai interessado em abafar ou encobrir o caso porque o Japão não é capaz de travar e vencer tamanho conflito bélico, aproveita a oportunidade de culpar Frank como o "bode expiatório" do incidente, mas nessa intriga policial a cabeça que rola é a de Ed McCarthy (DJ Qualls), o melhor amigo e colega de trabalho de Frank.
Joe Blake é um agente secreto Nazi que atua sob disfarce, encarregado de rastrear e apreender os filmes subversivos, bem como identificar, informar e até mesmo matar os elementos da Resistência que encontrar pelo caminho. Reporta diretamente ao Obergruppenführer John Smith.
De alguma forma, os seus sentimentos ou paixão por Juliana que acaba por conhecer numa das suas missões na zona neutra, assim como o visionamento dos filmes, convertem-no num autêntico agente duplo que gravita entre o controlo e obediência exigidos pelos Nazis e os interesses da rebelião.
No restante elenco base merece destaque Nobusuke Tagomi (Cary-Hiroyuki Tagawa), o Ministro do Comércio japonês em S. Franciso, praticante da religiosidade milenar ou espiritualidade mística e oráculo do I Ching, que tenta dotar o império com os meios para sobreviver à ameaça real da formação de um Reich universal. Talvez seja a personalidade mais humanista de toda a trama.
Inspirada na obra-prima de Philip K. Dick, descrita pelo realizador Ridley Scott como "ficção-científica eletrizante e atordoante" contendo "muitas estórias dentro de uma só estória", a série acaba por ser a sua reinterpretação arrojada que materializa diferenças mais ou menos substanciais, mas mantém o espírito distópico do "conto" pós-moderno.
A sua versão no pequeno ecrã demarca-se – pelo menos até ao momento – de aspetos mais mirabolantes e fantasistas, tais como, a drenagem do Mediterrâneo para terras de cultivo férteis ou a corrida, exploração e colonização espacial do sistema solar pelos Nazis.
No romance não são filmes, mas sim o livro The Grasshoper Lies Heavy escrito pelo casal Hawthorne e Caroline Abendsen, inspirados pelo I Ching, que descreve a realidade alternativa ao domínio japonês e Nazi. Claro está que na era da internet, da multimédia, do streaming, do iPhone, das apps, das redes sociais etc... os filmes são mais inteligíveis ao grande público.
De igual modo, conforme referido, as lideranças do Kempeitai e das SS de Nova Iorque são personagens criadas especialmente para a série.
The Man in the High Castle vale sobretudo como thriller exuberante pautado pelo suspense clássico, realista e refinado, sugestivo da feição noir das intrigas de Alfred Hitchcock. Revisita as angústias reproduzidas na escrita de Nathanael West: os fãs da série vão perceber a referência. Resulta no efeito e na intensidade dramática paradoxal, tensa e sóbria em simultâneo. Destina-se a gerações mais adultas que compreendam a sátira subversiva e inversão da História deste universo ficcional distópico.
A série oferece boas e belas cenografias dos anos 60. High Castle tem o cuidado de retratar a arquitectura de Estado megalómana e monumental do urbanismo Nazi, de feição clássica, neo-clássica e funcionalista, conforme preceituado pelo grande arquitecto do regime Albert Speer, constituindo instrumentos de propaganda ideológica promotores da épica ariana.
Destaque para o edifício íngreme que serve de quartel general das SS, na cidade de Nova Iorque, que desafia a imponência do antigo World Trade Center no poster/cartaz de promoção da série ou substitui a importância da sede das Nações Unidas (ONU) nas proximidades da Queensboro Bridge, em diversos takes ou frames televisivos.
No último episódio da 1.ª temporada, High Castle visita a cidade de Berlim, convertida numa espécie de capital política mundial, sede de culto do Estado e da personalidade do Führer, o novo Vaticano ou a nova Washington DC, dotada pela arquitectura sumptuosa dos edifícios governativos, sobressaindo a cúpula do Volkshalle a par da frondosa ringstrasse.
Aliás, High Castle foi galardoada com 2 Emmys, entre os quais o prémio de fotografia referente à categoria de Outstanding Cinematography for a Single-Camera Series.
O outro Emmy relaciona-se com a criatividade do tema de abertura, Outstanding Main Title Design, algo soturno e melancólico, sugestivo do suspense noir, sátira mordaz, efeito de cartoon ou de novela gráfica intrínsecos à versão alternativa da História contada pela série.
O ambiente sinistro, enigmático e a feição de drama de época exuberante catalisados por The Man in the High Castle fundem a toada trágico-cómica do filme Inglourious Basterds/Sacanas Sem Lei (2009) de Quentin Tarantino com a seriedade e o horror de Schindler's List/A Lista de Schindler (1993) de Steven Spielberg.
A ideia de aventura e de cruzada anti-Nazi sugere algo de Indiana Jones Raiders of The Lost Ark (1981) e The Last Crusade (1989). As cenografias megalómanas, a realidade alternativa fantasista a par da atmosfera soturna e aterradora induzidas pelo exercício do poder totalitário Nazi emulam, em parte, a realidade virtual e físicas dos videojogos Wolfenstein e The Saboteur. A conspiração no seio das fileiras Nazis contra o nacional-socialismo e o Führer possuem semelhanças com Valkyrie (2008) protagonizado por Tom Cruise.
A partir da 2.ª metade da 1.ª temporada, depois de apresentada a trama e de enquadrar devidamente as personagens principais, High Castle ganha ritmo, balanço e atitude fascinantes. O último episódio da 1.ª temporada é espetacular.
Ao visitar a cidade magistral de Berlim, o Quartel General do Führer nos Alpes Austríacos e ao colocar em cena o próprio Adolf Hitler, projeta a série para outro nível, outra dimensão que alimenta a expectativa para a 2.ª temporada, prometendo revelar mais sobre os bastidores e secretismo do poder Nazi, bem como alargar a incidência e complexidade do mapa e xadrez político mundial.
A dinâmica de thriller e suspense merece amplo elogio pela crítica que conota esta série com X-Files (1993-2002), Lost (2005-2010) e Battlestar Galactica (2005-2009), entre outros, no sentido de ser cada vez mais cativante de episódio para episódio e talvez de temporada para temporada.
High Castle apresenta diálogos interessantes, cinematografia exuberante para uma série. Filmada e encenada a regra e esquadro, pautando-se pela disciplina e organização do enredo, de forma calma, mas inquietante, acaba por ser viciante.
CA
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