Millennials e Zappers,
as gerações do pensamento em mosaico e, supostamente, multitarefa, eufemismo
que caracteriza o etos – forma de ser ou estar – próprio de quem deixa tudo
pela metade, a começar pelos relacionamentos. A Geração do Milénio (Y) e os
seus descendentes, a Geração Zapping (Z), demarcam-se da monotonia dos
compromissos para viverem a crédito das aparências, sobretudo face a
competências académicas, profissionais e socio-afetivas supostamente inatas ou
adquiridas, que, de facto, não dominam.
No limbo digital web em que a Generation
Me insufla egos, globaliza narcisismo bacoco, imersa na qualidade erógena
de cliques, likes, emojis, efeito viral e K-idols, nem
tudo consubstancia defeitos, destacam-se algumas virtudes. Aparentemente
ecorresponsáveis e ativistas interculturais, estas gerações exibem solidariedade, nomeadamente se esse
altruísmo fomentar a voracidade pela partilha de selfies. Fetichistas
dos emoticons, regressam às bases da civilização, ao reproduzirem tal paralinguística,
qual reinvenção, ou talvez não, da escrita pictográfica. No entanto, evanesce o
gosto quer pelos sujeitos quer pelos predicados.
Nesta fusão umbilical com as TIC, a
par da cultura de evasão induzida pelos social medias, os estereótipos
antropológicos Y e Z negam a fealdade da realidade, ignoram a consciência da
contemporaneidade, em particular os desafios de desenvolvimento sustentável, procrastinam
a sua individuação, autonomia e, em última instância, liberdade, na medida em
que as apps, interfaces e os ecrãs regulam as suas escolhas ou suplantam
o exponenciar do sentido crítico, criatividade, além dos horizontes.
Na perspetiva existencial, estes nativos
digitais e siameses da tecnologia privam-se de fruir simples prazeres
quotidianos, como, por exemplo, ler nas entrelinhas, o flirt, o striptease
psicológico, colocar a boca no trombone, saborear o momento, entre outras
sinestesias. Quando as pessoas viam e comiam as coisas com as mãos, eram muito
mais felizes. Hoje, os mais próximos dessa experiência tátil são os chineses, que
comem tudo com pauzinhos! Se calhar, maleitas à parte, é por isso que são
tantos e tantos, uma potência demográfica.
CA
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