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INCORPORATED – Syfy; Ben Affleck; Matt Damon


Incorporated – estreia em televisão, desde 30 de novembro – representa a distopia e o thriller futurista sobre os conflitos e a luta de um jovem executivo contra a hegemonia e corrupção discricionárias exercidas pela corporação SPIGA bio-tech. A série é produzida e transmitida pelo canal norte-americano Syfy, sobressaindo Ben Affleck e Matt Damon enquanto produtores.

Incorporated situa-se em 2074, depois de um apocalipse ambiental provocado por mudanças climáticas extremas que devastaram o planeta, causaram fomes endémicas, provocaram a banca-rota e o desmembramento da maioria dos governos nacionais.
Perante tal cenário desolador e anárquico, as corporações empresariais multinacionais mais dinâmicas assumiram as lideranças do poder, comandam o destino da humanidade, controlam cerca de 90% do globo, travam entre si guerras silenciosas e encapotadas com o objetivo de disputar o domínio sobre os escassos recursos naturais. 
A nova ordem mundial induziu o sectarismo social. Os favorecidos vivem e trabalham nas Green Zones – zonas verdes –, cidades dinamizadas pelas corporações, protegidas por muralhas e servidas pelo parque tecnológico e administrativo do respetivo consórcio empresarial, enquanto os desfavorecidos vivem nas Red Zones – zonas vermelhas –, sobrevivendo na qualidade de "refugiados do clima" em bairros de lata ou favelas amontoadas e insalubres, com edifícios em ruína, vestígios da civilização atual há muito desaparecidas. 
Os regimes governativos autoritários e totalitários promovidos pelas corporações assumem feições de oligarquia espartana, sustentam-se na tecnocracia e na segurança privada musculada dos consórcios, com atribuições de polícia política, representando na prática autênticas ditaduras ou tiranias de colarinho branco. 
O fascismo corporativo adota conotações axiológicas ambivalentes, na medida em que não impõe uma conduta moral obrigatória, nem recorre à propaganda ou brigada de costumes, apenas exige e policia o compromisso e a fidelidade absolutas ao consórcio, possibilitando inclusive aos habitantes das Green Zone circular e aceder às diversões, prazeres ou vícios noturnos dos red light district.
A SPIGA revela ser a corporação mais influente e poderosa, que inclusive investe em tecnologias anti-subversivas de vigilância mental e psicológica capazes de penetrar no subconsciente do individuo.

Ben Larson – interpretado pelo ator Sean Teale – é o protagonista da série que irá desafiar e tentar destruir por dentro o sistema estabelecido, bem ao estilo do filme Equilibrium (2002) protagonizado por Christian Bale.
Ben assume a identidade ecléctica de fachada, ao infiltrar-se como jovem executivo no seio da elite corporativa, inclusive casa com Laura (Allison Miller) que é a filha de Elizabeth Krauss (Julia Ormond) líder e CEO intransigente da SPIGA. Para lá do altruísmo e missão de sabotagem, as motivações de Ben também são passionais, visto que no decurso desse processo revolucionário tentará encontrar e salvar a sua verdadeira amada.

Como principal antagonista, além da CEO, figura Julian, chefe de segurança da SPIGA – uma espécie de Gestapo –, interpretado pelo ator Dennis Heysbert reconhecível pelo grande público mediante as suas personagens nas séries 24 e The Unit.
O ambiente futurista de Incorporated sustenta-se em grande medida na atmosfera urbana cosmopolita e paisagem natural da cidade canadiana de Toronto, nas margens do lago Ontário, através da sua arquitectura funcional e vertical servida por planta topográfica ortogonal moderna, constituindo o principal local de filmagens. A série também aproveita o brilho dos néon, led e dos ecrãs multimédia da icónica Yonge Dundas Square.

A estética dos cenários de Incorporated transmite a perceção de uma era tecnológica de consolidação e apogeu da revolução neotécnica, nas cidades controladas e dinamizadas pelos consórcios. Qualquer superfície espelhada serve de interface e monitor para diferentes plataformas informáticas ou digitais, enquanto que os carros exibem o visual e performance robótica. A representação futurista radica ainda no minimalismo e sofisticação do décor de interiores das Green Zone.
A banda sonora favorece a atmosfera futurista ao sincretizar instrumentos clássicos – como por ex., o piano – com a música eletrónica e techno, reprodutores de acordes sinistros e ruídos enigmáticos, por vezes atonais, catalisadores do efeito de thriller eletrizante pretendido pela série.



Em termos do enredo Incorporated promete oferecer situações intrigantes encenadas na perspetiva do suspense e da sátira subversiva subtil sobre os males da civilização – uma espécie de parábola futurista –, desde logo a premissa e consequências económico-sociais negativas das mudanças climáticas, bem como a questão das assimetrias, desigualdades e clivagens sociais, étnicas, culturais e raciais simbolicamente representadas no erguer dos muros que separam as Green Zones das Red Zones, retratando um mundo claustrofóbico obcecado pela segurança, conforto e bem-estar de uns quantos, contrastantes com a miséria da maioria. Mais. Pelo meio teremos oportunidade de assistir a lutas corporativas de poder maquiavélicas e a dilemas morais pessoais de cariz filosófico, sobre o conflito cognitivo entre o bem e o mal, a verdade e a mentira.


O ambiente e os cenários futuristas a par do efeito de thriller de Incorporated exibem reciprocidades com formatos congéneres de televisão e do cinema, revisitam atributos do filme Elysium (2013) protagonizado por Matt Damon, e com menor grau de influência Divergent (2014-2017) Mazze Runner (2014-2018) e talvez algo de Blade Runner (1982). Em termos do pequeno ecrã demonstra semelhanças com as séries Almost Human (2013-2014) Extant (2014-2015) e Continuum (2012-2015).

CA

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