Wild World – lançado em 9 de setembro – personifica o 2.º álbum de estúdio de Bastille, banda Indie Pop originária do sul de Londres, formada, em parte, desde 2010, pela qual nutro especial admiração face à invocação cultural e inspiração na História a par da Mitologia personificadas em alguns dos seus trabalhos musicais, implícitas inclusive na identidade atinente ao nome artístico, que radica no símbolo auspicioso da Revolução Francesa (1789), a Bastilha, e se conota com a luta pelas liberdades cívicas. Aliás, por acaso "feliz", o aniversário do seu líder e vocalista, Dan Smith, coincide com o Dia ou Tomada da Bastilha, 14 de julho.
O álbum consolida a imagem e as marcas de estilo da banda, reflexo de diferentes tendências culturais inerentes ao ambiente tanto cosmopolita quanto lúdico da margem sul do Tâmisa, aspetos reprodutores da sonoridade Indie Pop enriquecida pelas influências do Electropop, Rock Alternativo e ritmos da House Music, que resultam na musicalidade envolvente, de efeito e performance semelhantes aos granjeados por Coldplay, conforme sustenta a crítica.
De forma melodiosa, Bastille seduz corpo e espírito através do som Pop sofisticado, recíproco ao fundo coral harmonioso, além da vibração dos acordes. Nessa medida, as suas canções despertam uma atmosfera intimista, vívida, replicada desde Pompeii, e do álbum de estreia, Bad Blood (2013), os primeiros sucessos mundiais da banda. Todavia Wild World integra maior presença acústica e "metal" de guitarras, bem como experimenta aproximações ao R&B, Hip-Hop, entre outros registos sonoros da música Indie.
A qualidade hedónica de Wild World sustenta-se na fruição das melodias e mundivivência dos temas interpretados por Bastille, capazes de:
– Catalisar o tom sério de reflexão sobre a descrença ou cepticismo motivados pelo cenário de "gritaria" política atual – ex. Warmth...
– Revisitar frases de assinatura de alguns filmes de ficção científica dos anos 70 e 80, mescladas com referências literárias, como, por ex., a tragédia Othello (1603), de William Shakespeare – ex. Send them Off; Good Grief...
– Integrar diversas referências da pop culture inerentes a cinema, TV, música, rádio, literatura, etc.
– Aludir, de modo figurativo, à História, embora em menor grau e de modo mais subjetivo comparativamente ao álbum Bad Blood. Nesse sentido, importa destacar Four Walls (The Ballad of Perry Smith), música e letra inspiradas no romance verídico In Cold Blood (1966), de Truman Capote, sobre o assassinato brutal cometido por Perry Smith. De igual modo, a música The Currents cita o cartoon Make Mine Freedom, de propaganda ao american way of life, nos primórdios da Guerra Fria, produzido por John Sutherland Productions, em 1948, mote recuperado na atualidade por Bastille, certamente enquanto premonição anti-candidatos presidenciais estilo
Donald Trump: «When anybody preaches disunity, tries to pit one of us against the other. You know that person seeks to rob us of our freedom and destroy our very lives.».
– Assumir o tom despretensioso do Indie Pop, ao procurar simplesmente entreter, ou desafiar o subconsciente, espírito materializado nas baladas reflexivas que se enquadram no alinhamento do álbum, as quais emulam o estilo – em voga – da House Music dos anos 90.
Wild World dispõe bem, oferece energia, alguma cor e ritmo. Evoca a diversidade e o lado íntimo das vivências pós-modernas. Merece figurar entre os melhores álbuns musicais de 2016. São injustas as críticas que reclamam maior ousadia na musicalidade ou interpretação, acusando Bastille de "ambição populista", a meu ver inevitável, na medida em que constituem uma banda Indie Pop nascida em plena geração do milénio, dominada pela maravilha tecnológica intrínseca aos fenómenos de popularidade das redes sociais. Mais. Esse mediatismo comprova-se no facto de algumas das músicas de Bastille – face à extrema popularidade – serem utilizadas no universo multimédia de séries de TV, trailers de cinema e video-jogos, apesar de o conjunto londrino completar meros 6 anos de carreira.
Tal estrelato contrasta, em absoluto, com o drama psicológico pessoal assumido pelo seu líder e vocalista, Dan Smith, decorrente de uma personalidade introvertida, causadora de ataques de pânico em palco, bem disfarçados, até porque são desconhecidos do público, mas que, de certa forma, integram as facetas mais melancólicas de Wild World.
CA
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