The Young Pope – ante-estreia no Festival de Cinema de Veneza; estreia mundial em televisão a 21 de outubro; exclusivo da TVSéries com emissão a partir de 06 de novembro, em Portugal – representa a mini-série ficcional, produzida, distribuída e transmitida através da cooperação de diferentes canais, HBO, Sky, Canal+, protagonizada pelo ator famoso Jude Law no papel de Lenny Belardo, o primeiro Papa norte americano da História, sob o nome de batismo Pio XIII.
A mini-série realizada por Paolo Sorrentino personifica o conceito aliciante e provocador do pontificado mais jovem de sempre, na medida em que Lenny – cardeal norte americano conotado à partida como conservador – vence a eleição do conclave e assume a liderança da cátedra de S. Pedro apenas com 47 anos.
Na prática do ofício para o qual foi investido, revela rapidamente traços de personalidade controversos, algo sanguíneos e narcisistas, ao ser arrogante, intransigente e vingativo, demonstra, por vezes, a humildade e simplicidade de um pregador evangélico, contudo prevalece sempre o seu modo de ser extravagante, astuto e maquiavélico, traços temperamentais refletidos em atitudes tão destrutivas quanto hilariantes.
Enquanto Pio XIII sobressai de imediato a resolução de revogar apenas para si próprio a proibição de fumar nos interiores do Vaticano. De igual modo, quando assume o pontificado ousa afirmar que não tem pecados nem precisa de os confessar, aliás, equipara a sua existência à complexidade de Deus: "I'm a contradiction... I'm God".
Drama e mistério, The Young Pope sugere apostar no estilo satírico sobre os comportamentos, as práticas e as mentalidades mais mundanas veiculados na direção eclesiástica e "política" da Igreja Católica.
Nessa perspetiva, exibe o ambiente e cenografias inerentes à pompa e megalomania próprias da majestosa cidade do Vaticano compaginadas com a trama obscura, por vezes dotada de facetas bizarras e grotescas, em torno do secretismo e meandros das poderosas lutas pelo poder na Santa Sé, a par dos vícios e da venalidade que afetam as lideranças do catolicismo, contrastantes pela negativa com o ideal ético/espiritual da santidade e humildade cristãs.
A própria vitória de Lenny que lhe permite assumir a chefia da Igreja Católica resultou de maquinações fracassadas por parte do seu mentor, o cardeal Michael Spencer, no sentido de conseguir ser o eleito, bem como no desenrolar do enredo percebemos que foram as ações do Secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal Voiello – personalidade de carácter ambíguo, mundano, lúbrico, mas por vezes altruísta – a urdir a possibilidade de Lenny se tornar Papa, ao fazer triunfar o candidato que à partida lhe seria mais maleável, dando aso ao controlo e manipulação do jovem sumo-pontífice, circunstância que converteria Voiello no verdadeiro poder por detrás do trono de S. Pedro.
Lenny/Pio XIII, apesar das adversidades, consegue vincar a sua personalidade Papal e legitimar o seu poder, realidade que alimenta a contenda interna com o cardeal Voiello e faz sobressair o seu trato mais irascível. Procura instituir um novo papado dotado de feições revolucionárias, obriga por ex., todos os cardeais a aprender e a falar em inglês, a título provocatório em relação ao consistório, Lenny nomeia para conselheira pessoal a irmã Maria – interpretada pela renomada atriz Diane Keaton –, antiga diretora do orfanato onde ele cresceu após ter sido abandonado pelos pais hippies!
Em The Young Pope sobressaem a mordacidade da trama e a sagacidade do ambiente, que, por vezes, roçam o lunático e o surreal, aspetos induzidos inclusive pela banda sonora, ao recorrer nas cenas mais dissonantes do senso comum, à estridência da música Eletrónica e Techno, marca de estilo que contribui para ilustrar o cinismo e a hipocrisia implícitos nas relações humanas e índole do sacerdócio no seio do Vaticano, bem como vincar a desfaçatez dos pensamentos mais íntimos de Lenny, realçando sempre o tom provocatório do "retrato" do jovem sumo-pontífice bastante controverso, aliás, o próprio nome de batismo, Pio XIII é por si só provocador, ao remeter para o último Papa histórico a utilizá-lo, concretamente Pio XII, pontificado considerado problemático em função do endosso ou do apoio recebido pelo regime fascista de Mussolini. Perante essa audácia e características dramáticas a crítica sustenta comparações com outras personagens de séries de TV, Don Draper de Mad Men e Tony Soprano de The Sopranos.
A mini-série configura um formato europeu, no qual se evidenciam as cenografias semelhantes a quadros ou retratos estilizados, assim como emula – conforme sugerido pela crítica –, em parte, Habemus Papam de Nanni Moretti, série de TV, de 2011, sobre um Papa eleito contra-vontade e de forma inesperada – supostamente inspirado no pontificado de João Paulo I – que vive consumido pelas suas dúvidas e incertezas.
O formato europeu porventura desencoraja as audiências mais habituadas ao estilo Hollywood, motivando à partida scores medianos em termos da metacrítica, mas o mediatismo do ator Jude Law certamente dinamizará a sua audiência e garantirá o seu sucesso junto ao grande público.
O conceito de The Young Pope é apelativo, mas o seu estilo que explora os meandros mais obscuros do poder e dos vícios no seio da cúria romana, carece de maior inovação e novidade. Com efeito, o tique e apetência do Vaticano pelo poder temporal a par da sátira de costumes associados à simonia, nicolaísmo, venalidades e nepotismo protagonizados pela Santa Sé constituem temáticas retratadas em inúmeras séries de televisão e no cinema, destacando-se entre os formatos mais recentes The Borgias (2011-2013) Da Vinci's Demons (2013-2015) e no género de policial apocalíptico, os romances de Dan Brown adaptados para filme: The Da Vinci Code (2006) e Anjos e Demónios (2009).
CA
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