Prometheus é um filme assinado por Ridley Scott, transparecendo-o desde logo, quer no apelo estético e visual que induz, quer nos cenários majestosos, riqueza de pormenores e perfeita osmose entre cultura natural e cultura construída. O sincretismo entre paisagens naturais e objetos virtuais reproduzem grande acuidade sensorial e profusão de perceções, que deslumbram de tal maneira, a ponto de esquecermos o efeito de thriller que, além do suspense, plasma momentos de horror ou terror.
Rapidamente, constatamos que Prometheus
é uma prequela da saga Alien, dotado de todas as características de
suspense, aventura, ação e terror que laurearam esse universo cinematográfico e
imaginário da ficção científica. Denotam-se outras influências: Blade
Runner, 2001 Odisseia no Espaço, Avatar e até um travo de Star Trek e
Star Gate.
A prequela consiste na especulação sobre
as origens do Homem e dos Aliens... Como o próprio título do filme
sugere, trata-se de descobrir o segredo dos deuses, mas tal como no mito
invocado, essa demanda pode revelar-se hostil para a Humanidade. É precisamente
nessa ambivalência que assenta a essência da trama. Uma equipa expedicionária
multidisciplinar constituída por um androide ou sintético; geólogos; biólogos;
arqueólogos; astrofísicos; antropólogos; etnólogos; especialistas forenses e
toda a tripulação de comando da nave Prometheus, financiada por uma corporação empresarial
– Weyland Corp – ávida e gananciosa, pensa estar em busca da génese da
vida, quando na realidade se defronta com uma maquinação apocalíptica para o
seu eventual extermínio na Terra. O saldo final repercute-se numa experiência
coletiva e individual de inspiração darwiniana – struggle for life – ou
lamarckista, numa luta pela sobrevivência entre espécies...
Nesse contexto, o espectador desenvolve
empatia ou afinidades com as personagens, em especial Elizabeth Shaw (Noomi
Rapace) – mimetização de Ellen Ripley, protagonizada nos filmes Alien
originais por Sigourney Weaver –, assim como imerge no conflito cognitivo sobre
quais seriam as suas decisões se estivesse na pele dos protagonistas. Em grande
medida, essa luta redunda numa questão de convicções, mais do que qualquer
aptidão para sobreviver. As questões éticas e existenciais são buriladas num
universo gnosiológico complexo, que busca argumentos e factos na Genética, Astrofísica,
Robótica, História, Antropologia Etologia, Psicologia, etc. embora sobressaía a
toada mística inspirada nas mitologias egípcia ou mesopotâmicas.
Nessa medida, além do entretenimento, o
grande mérito da longa-metragem radica nas questões axiológicas e ontológicas
que suscita. Respeitando sempre o principio do livre-arbítrio, a tese central –
sem ser algo de impositivo – intui que há um propósito, um comando que instila
toda e qualquer existência... A evidência dessa finalidade faz prevalecer
questões plurisseculares que são o berço de toda a ciência, conhecimento, religiosidade
e metafísica: De onde viemos? Para onde vamos? O que fazemos aqui? Será que não
estamos sós?
Prometheus sugere hipóteses, colocadas no pano de
fundo atinente ao ambiente que, de forma gradativa, se torna cada vez mais
hostil para os humanos. No imediato, a questão que se revela mais chocante
consiste na fragilidade ou incapacidade de dispor livremente do corpo e
autonomia ante outras espécies proficuamente invasivas e parasitárias.
A mensagem final é profundamente humanista e vitalista. Somos aquilo em que escolhemos acreditar. Prevalece a ontologia forte. A única personagem humana sobrevivente é feminina, Elizabeth Shaw, a qual guarda religiosamente um crucifixo representativo dos valores morais que lhe foram transmitidos pelo seu pai, aspeto relevante no plano simbólico. Assim como as espécies alienígenas são definidas pela filogénese e ADN, os seres humanos são caracterizados por aquilo que conseguem transmitir de geração em geração, num processo de ontogénese. Neste digladiar de sobrevivência interplanetário, prevalece quem está mais certo das suas convicções.
Mal posso esperar pela continuação, num mais que certo segundo filme – em estilo de prequela – desta nova etapa da saga Alien...
A mensagem final é profundamente humanista e vitalista. Somos aquilo em que escolhemos acreditar. Prevalece a ontologia forte. A única personagem humana sobrevivente é feminina, Elizabeth Shaw, a qual guarda religiosamente um crucifixo representativo dos valores morais que lhe foram transmitidos pelo seu pai, aspeto relevante no plano simbólico. Assim como as espécies alienígenas são definidas pela filogénese e ADN, os seres humanos são caracterizados por aquilo que conseguem transmitir de geração em geração, num processo de ontogénese. Neste digladiar de sobrevivência interplanetário, prevalece quem está mais certo das suas convicções.
Mal posso esperar pela continuação, num mais que certo segundo filme – em estilo de prequela – desta nova etapa da saga Alien...
CA
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