Todos conhecemos as "estórias" de Noé e de Prometeu. Mas não é objecto do presente texto fazer a sua sinopse. Estas duas figuras são a base da formulação de dois paradigmas ou signos desenvolvidos ao longo da História por eruditos, pensadores, filósofos, cientistas, pânditas entre outros. Assim sendo, coloca-se na actualidade a seguinte questão para reflexão: Hoje vivemos sob o paradigma e signo de Prometeu ou de Noé?
O paradigma de Prometeu está associado à ética da exploração, enquanto que o de Noé tem o seu fundamento na ética da salvaguarda. Assim sendo, no caso de Prometeu as palavras de ordem, termos e conceitos consubstanciam-se no explorar, conquistar e dominar. Já no caso de Noé os motes verbais são salvaguardar, preservar e proteger. Os dois paradigmas são antinómicos e diametralmente opostos.
Será que é possível identificar e observar estes dois paradigmas ao longo da História? A resposta é afirmativa. Com efeito o paradigma de Prometeu é sinónimo de Modernismo e o seu início data da época do Renascimento e termina no limiar do século XX ou na sua 1.ª metade. Já o paradigma de Noé embora tenha correspondência Bíblica sofreu um hiato temporal desaparecendo, mas volta a ressurgir no desenrolar do século XX, sobretudo a partir da 2.ª metade, sendo apanágio e pecúlio do Pós-Modernismo.
A nível ontológico, gnosiológico e antropológico, o paradigma de Prometeu personifica uma cosmovisão "Insular", ou seja, afirma que o Homem deve dominar o Mundo, e por isso pode explorá-lo a seu bel-prazer. Já o paradigma de Noé plasma a mundividência "Peninsular", isto é, advoga que o Homem faz parte do Mundo, e por essa razão para sobreviver deve de protegê-lo.
Prometeu acredita na ética, mas Noé não deixa de colocar a ênfase na estética. A razão é a forma de pensar e agir de Prometeu. Já para Noé a emoção é o seu sentido de existir. Prometeu cultua a racionalidade enquanto que Noé se diverte com o contraditório, a crítica, o pastiche, a paródia e ironia. Prometeu procura o Progresso, contudo Noé defende o Desenvolvimento – como dizem nostros hermanos desarollo sustenido – económico e humano. A ciência e a tecnologia são dois domínios apóstolos de Prometeu. Para Noé, o Humanismo, o Vitalismo e o Património são mais válidos. Prometeu parte da dúvida metódica de modo a alcançar ilações objectivas – objectivismo – mas Noé tem a incerteza e o subjectivismo como certos e verdadeiros. Prometeu acredita na universalidade, no absoluto e no unívoco. Já Noé valoriza o local, a osmoze, a miscigenação, a idiossincrasia, a dialéctica e o equívoco.
A visão holística e dominadora do Mundo por parte de Prometeu constituiu a base para a proclamação da Hegemonia do Ocidente e visão Eurocêntrica que se impôs, conquistou, aculturou e dominou outros continentes. Portugal integrou essa era na sua época de ouro – os Descobrimentos –, assim como teve por parceira a Espanha Católica. Há no entanto que diferenciar a forma, modelo ou realpolitik com que estes impérios desde os séculos XV-XVI, dominavam as suas parcelas territoriais em cada continente. Tomemos como exemplo a América do Sul e Central. Os portugueses dominavam pela exploração – dai que os seus exploradores ficassem conhecidos como Bandeirantes – enquanto que os espanhóis dominavam pela conquista, facto ao qual não será estranho que os espanhóis que desembarcavam no Novo Mundo ficassem conhecidos como Conquistadores. Por oposição Noé defende o multiculturalismo e pluriculturalismo, estabelece como regra que nenhuma cultura é superior postulando as diferenças e a diversidade. Já Prometeu completa a sua visão holística e dominadora do Mundo com os “dogmas” da norma, da regra, da lei e do etnocentrismo.
O paradigma de Prometeu tem as suas raízes no pensamento Renascentista, assim como a sua genealogia em termos de correntes de pensamento e sistemas filosóficos que o suportam foram o Racionalismo, o Experiencialismo, o Experimentalismo, o Iluminismo, o Darwinismo, o Naturalismo e o Positivismo. Podemos apontar os nomes mais sonantes e emblemáticos que o conjecturaram, a saber: Maquiavel, Giovanni Picollo della Mirandola, Descartes, os portugueses Pedro Nunes e Damião de Góis, Espinoza, Th. Hobbes, J. Locke, D. Hume, J.J. Rousseau, Montesquieu, Kant e Hegel, Darwin, A. Comte, Durkheim.
O paradigma de Noé radica no relato Bíblico e para os que acreditam o seu autor é Deus. Não obstante ele ressurge, é recriado ou parcialmente redescoberto por F. Nietsczhe e Heidegger. Na 1.ª metade do século XX, ganha força com diversas teorias científicas e filosóficas então postuladas. O principio da incerteza de Heisenberg, a teoria da relatividade de A. Einstein, a teoria da corroboração de Karl Popper e a metamorphose de F. Kafka. É subsidiário do existencialismo positivo de acordo com os ditames e à imagem de Ernest Bloch, assim como das teorias sobre psicologia de S. Freud e J. Piaget. É nas décadas de 50 e 60 do século XX, que se afirma definitivamente contando com cultores como Roland Barthes e Claude Lévi-Strauss. Nessas décadas beneficiou ainda do emergir do movimento literário e cultural muito associado a Wittgenstein que ficou conhecido como Linguistic Turn e ainda o despertar do movimento ecológico que tem sequência nos nossos dias com o advir das indústrias e energias verdes. A ponte deste paradigma até aos nossos dias foi feita por personalidades como Michel Foucault, Fielkenkraut e Lipovetskiy. Talvez o maior cultor e publicista deste paradigma seja Edgar Morin. A título de curiosidade, um dos eruditos portugueses adepto deste paradigma é o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.
Mas em termos práticos de que modo e em que medida o paradigma de Prometeu e de Noé influenciaram a História, ou por outras palavras, o Homem nas suas diferentes acções, domínios, actividades e manifestações?
A época de Prometeu ou Modernismo foi importante pois logrou várias conquistas e progresso para a Humanidade. É suficiente referir a Revolução Industrial e as sinergias e invenções que gerou como a electricidade, o motor de combustão, o carro, a aviação, a telegrafia, o comboio. A estas juntam-se outras descobertas e avanços no século XX, como o cinema, a rádio, o telefone, os mass media, a aeronáutica, o progresso da Medicina e Farmacologia, sendo mister referir Pasteur, a penicilina, os antibióticos, a descoberta da anestesia e da radiografia (M. Curie) e a evolução na cirurgia. Em suma toda a ciência e tecnologia que sustenta o modern way of life.
Prometeu foi ainda importante na luta pela conquista da Liberdade. Refiro-me ao movimento descrito pela História das Relações Internacionais, no conceito de Grande Revolução Atlântica (sécs. XVIII-XX), que agrega e incorpora a Revolução Americana, a Revolução Francesa, os movimentos de libertação colonialista da América Latina – que confrontou Portugal com Grito do Epiranga – até à Revolução Soviética Manchevique e Bolchevique. Em termos de importância destacam-se a Revolução Americana que deu origem à primeira Constituição que de modo inaudito consagra o direito do Homem à felicidade e a sua procura (eudemonismo), e a Revolução Francesa pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que servirá de base para que a ONU no 3.º quartel do século XX, proclame os continentalmente subscritos Direitos Humanos.
Mas a era de Prometeu atingiu o seu auge nos anos 60. Tal como Promoteu subiu ao Olimpo para roubar o fogo sagrado, o Homem conseguiu chegar à Lua. Paradoxalmente foi o canto do cisne para esse paradigma.
Grandes conquistas e progressos sem dúvida alguma. A História não é Tribunal nem Sinédrio. Não obstante, demonstra comprovadamente que Prometeu em nome da razão e da racionalidade permitiu que frequentemente se instruíssem sistemas brutais e cruéis de opressão e exploração. A título de exemplo veja-se o aproveitamento que o III.º Reich e o Führer arquitectaram e orquestraram a partir da ciência positivista de Oswald Spengler e as suas teorias de eugenia que determinavam a superioridade da raça ariana. Tudo acabou em barbárie e genocídio de judeus, ciganos, polacos, bolcheviques e deficientes, entre outros. Mas essa é apenas a parte conhecida e enciclopédica da História. Com efeito há uma verdade velada sobre os desejos hegemónicos exacerbados e sanguinolentos do III.º Reich. A Alemanha Nazi tinha planos de invadir a Península Ibérica depois de ganhar na frente Leste à URSS. À imagem das raças supracitadas os nazis consideravam os latinos como uma raça inferior. Espero que não se espantem com as afirmações seguintes! Espanhóis e Italianos – quando a Itália capitulou – foram explorados em Campos de Trabalhos Forçados e posteriormente exterminados e liquidados.
Prometeu também produziu com o nome de Projecto Manatthan a Bomba Atómica. Sem chorar uma única lágrima de sangue lançou-a sobre Hiroxima e Nagazaki dizimando e obliterando milhares.
Prometeu teceu e urdiu os seus próprios grilhões. Em seu lugar na actualidade irradia o exemplo de Noé. Na actualidade verifica-se uma mudança de paradigma e de signo. Já não é Prometeu que guia o Homem mas sim Noé. Já não é importante conquistar mas sim proteger. Mas o que é que temos de proteger? Desde logo a Liberdade, a Democracia, os Direitos Humanos, as diferenças de género, a infância, a velhice, as minorias – étnicas, raciais, culturais, religiosas – o Património Natural e Construído ou Histórico-Cultural, desde a arte em sentido lato ou em termos mais específicos a arquitectura, a escultura, a pintura, a literatura mas também as tradições. Mas o aspecto mais importante e a essência do paradigma de Noé é que o Homem se consciencialize que faz parte do Mundo e para sobreviver não o pode explorar de modo discricionário, tendo de salvaguardar e proteger o Planeta. A Internet e as NTIC – tecnologias produzidas já sobre o paradigma de Noé – têm e desempenham um papel importante nesse esforço de informação sobre a salvaguarda e o exemplo de Noé para insight da learning society e global village. Por um lado voltámos a ser Noé, e por outro, Adão, ou seja, zeladores do Éden que nos foi confiado. No dizer de Edgar Morin o Homem é um «ente bio-socio-cultural». Como tal é sua incumbência, obrigação e necessidade proteger o human environment, ou por outras palavras, todos os seres vivos e o Homem na sua ontogénese e filogénese.
Quem diria que milénios volvidos, se possa afirmar que vivemos na época de Noé, sob o seu signo e paradigma, e que afinal os deuses do Olimpo tinham razão quando castigaram e agrilhoaram Prometeu. Prometeu ofereceu o fogo sagrado ao Homem e por um lado, esse esteve na base da sua supremacia sobre a face da terra, mas por outro lado, incendiou e incinerou o Planeta. Já Noé não tem nada para oferecer. Outorga sim uma dádiva confiada ao Homem que lhe permite salvar-se da cheia e do dilúvio em que o Mundo se pode tornar se não for seguido o seu exemplo de salvaguardar, preservar e proteger.
O paradigma de Prometeu está associado à ética da exploração, enquanto que o de Noé tem o seu fundamento na ética da salvaguarda. Assim sendo, no caso de Prometeu as palavras de ordem, termos e conceitos consubstanciam-se no explorar, conquistar e dominar. Já no caso de Noé os motes verbais são salvaguardar, preservar e proteger. Os dois paradigmas são antinómicos e diametralmente opostos.
Será que é possível identificar e observar estes dois paradigmas ao longo da História? A resposta é afirmativa. Com efeito o paradigma de Prometeu é sinónimo de Modernismo e o seu início data da época do Renascimento e termina no limiar do século XX ou na sua 1.ª metade. Já o paradigma de Noé embora tenha correspondência Bíblica sofreu um hiato temporal desaparecendo, mas volta a ressurgir no desenrolar do século XX, sobretudo a partir da 2.ª metade, sendo apanágio e pecúlio do Pós-Modernismo.
A nível ontológico, gnosiológico e antropológico, o paradigma de Prometeu personifica uma cosmovisão "Insular", ou seja, afirma que o Homem deve dominar o Mundo, e por isso pode explorá-lo a seu bel-prazer. Já o paradigma de Noé plasma a mundividência "Peninsular", isto é, advoga que o Homem faz parte do Mundo, e por essa razão para sobreviver deve de protegê-lo.
Prometeu acredita na ética, mas Noé não deixa de colocar a ênfase na estética. A razão é a forma de pensar e agir de Prometeu. Já para Noé a emoção é o seu sentido de existir. Prometeu cultua a racionalidade enquanto que Noé se diverte com o contraditório, a crítica, o pastiche, a paródia e ironia. Prometeu procura o Progresso, contudo Noé defende o Desenvolvimento – como dizem nostros hermanos desarollo sustenido – económico e humano. A ciência e a tecnologia são dois domínios apóstolos de Prometeu. Para Noé, o Humanismo, o Vitalismo e o Património são mais válidos. Prometeu parte da dúvida metódica de modo a alcançar ilações objectivas – objectivismo – mas Noé tem a incerteza e o subjectivismo como certos e verdadeiros. Prometeu acredita na universalidade, no absoluto e no unívoco. Já Noé valoriza o local, a osmoze, a miscigenação, a idiossincrasia, a dialéctica e o equívoco.
A visão holística e dominadora do Mundo por parte de Prometeu constituiu a base para a proclamação da Hegemonia do Ocidente e visão Eurocêntrica que se impôs, conquistou, aculturou e dominou outros continentes. Portugal integrou essa era na sua época de ouro – os Descobrimentos –, assim como teve por parceira a Espanha Católica. Há no entanto que diferenciar a forma, modelo ou realpolitik com que estes impérios desde os séculos XV-XVI, dominavam as suas parcelas territoriais em cada continente. Tomemos como exemplo a América do Sul e Central. Os portugueses dominavam pela exploração – dai que os seus exploradores ficassem conhecidos como Bandeirantes – enquanto que os espanhóis dominavam pela conquista, facto ao qual não será estranho que os espanhóis que desembarcavam no Novo Mundo ficassem conhecidos como Conquistadores. Por oposição Noé defende o multiculturalismo e pluriculturalismo, estabelece como regra que nenhuma cultura é superior postulando as diferenças e a diversidade. Já Prometeu completa a sua visão holística e dominadora do Mundo com os “dogmas” da norma, da regra, da lei e do etnocentrismo.
O paradigma de Prometeu tem as suas raízes no pensamento Renascentista, assim como a sua genealogia em termos de correntes de pensamento e sistemas filosóficos que o suportam foram o Racionalismo, o Experiencialismo, o Experimentalismo, o Iluminismo, o Darwinismo, o Naturalismo e o Positivismo. Podemos apontar os nomes mais sonantes e emblemáticos que o conjecturaram, a saber: Maquiavel, Giovanni Picollo della Mirandola, Descartes, os portugueses Pedro Nunes e Damião de Góis, Espinoza, Th. Hobbes, J. Locke, D. Hume, J.J. Rousseau, Montesquieu, Kant e Hegel, Darwin, A. Comte, Durkheim.
O paradigma de Noé radica no relato Bíblico e para os que acreditam o seu autor é Deus. Não obstante ele ressurge, é recriado ou parcialmente redescoberto por F. Nietsczhe e Heidegger. Na 1.ª metade do século XX, ganha força com diversas teorias científicas e filosóficas então postuladas. O principio da incerteza de Heisenberg, a teoria da relatividade de A. Einstein, a teoria da corroboração de Karl Popper e a metamorphose de F. Kafka. É subsidiário do existencialismo positivo de acordo com os ditames e à imagem de Ernest Bloch, assim como das teorias sobre psicologia de S. Freud e J. Piaget. É nas décadas de 50 e 60 do século XX, que se afirma definitivamente contando com cultores como Roland Barthes e Claude Lévi-Strauss. Nessas décadas beneficiou ainda do emergir do movimento literário e cultural muito associado a Wittgenstein que ficou conhecido como Linguistic Turn e ainda o despertar do movimento ecológico que tem sequência nos nossos dias com o advir das indústrias e energias verdes. A ponte deste paradigma até aos nossos dias foi feita por personalidades como Michel Foucault, Fielkenkraut e Lipovetskiy. Talvez o maior cultor e publicista deste paradigma seja Edgar Morin. A título de curiosidade, um dos eruditos portugueses adepto deste paradigma é o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.
Mas em termos práticos de que modo e em que medida o paradigma de Prometeu e de Noé influenciaram a História, ou por outras palavras, o Homem nas suas diferentes acções, domínios, actividades e manifestações?
A época de Prometeu ou Modernismo foi importante pois logrou várias conquistas e progresso para a Humanidade. É suficiente referir a Revolução Industrial e as sinergias e invenções que gerou como a electricidade, o motor de combustão, o carro, a aviação, a telegrafia, o comboio. A estas juntam-se outras descobertas e avanços no século XX, como o cinema, a rádio, o telefone, os mass media, a aeronáutica, o progresso da Medicina e Farmacologia, sendo mister referir Pasteur, a penicilina, os antibióticos, a descoberta da anestesia e da radiografia (M. Curie) e a evolução na cirurgia. Em suma toda a ciência e tecnologia que sustenta o modern way of life.
Prometeu foi ainda importante na luta pela conquista da Liberdade. Refiro-me ao movimento descrito pela História das Relações Internacionais, no conceito de Grande Revolução Atlântica (sécs. XVIII-XX), que agrega e incorpora a Revolução Americana, a Revolução Francesa, os movimentos de libertação colonialista da América Latina – que confrontou Portugal com Grito do Epiranga – até à Revolução Soviética Manchevique e Bolchevique. Em termos de importância destacam-se a Revolução Americana que deu origem à primeira Constituição que de modo inaudito consagra o direito do Homem à felicidade e a sua procura (eudemonismo), e a Revolução Francesa pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que servirá de base para que a ONU no 3.º quartel do século XX, proclame os continentalmente subscritos Direitos Humanos.
Mas a era de Prometeu atingiu o seu auge nos anos 60. Tal como Promoteu subiu ao Olimpo para roubar o fogo sagrado, o Homem conseguiu chegar à Lua. Paradoxalmente foi o canto do cisne para esse paradigma.
Grandes conquistas e progressos sem dúvida alguma. A História não é Tribunal nem Sinédrio. Não obstante, demonstra comprovadamente que Prometeu em nome da razão e da racionalidade permitiu que frequentemente se instruíssem sistemas brutais e cruéis de opressão e exploração. A título de exemplo veja-se o aproveitamento que o III.º Reich e o Führer arquitectaram e orquestraram a partir da ciência positivista de Oswald Spengler e as suas teorias de eugenia que determinavam a superioridade da raça ariana. Tudo acabou em barbárie e genocídio de judeus, ciganos, polacos, bolcheviques e deficientes, entre outros. Mas essa é apenas a parte conhecida e enciclopédica da História. Com efeito há uma verdade velada sobre os desejos hegemónicos exacerbados e sanguinolentos do III.º Reich. A Alemanha Nazi tinha planos de invadir a Península Ibérica depois de ganhar na frente Leste à URSS. À imagem das raças supracitadas os nazis consideravam os latinos como uma raça inferior. Espero que não se espantem com as afirmações seguintes! Espanhóis e Italianos – quando a Itália capitulou – foram explorados em Campos de Trabalhos Forçados e posteriormente exterminados e liquidados.
Prometeu também produziu com o nome de Projecto Manatthan a Bomba Atómica. Sem chorar uma única lágrima de sangue lançou-a sobre Hiroxima e Nagazaki dizimando e obliterando milhares.
Prometeu teceu e urdiu os seus próprios grilhões. Em seu lugar na actualidade irradia o exemplo de Noé. Na actualidade verifica-se uma mudança de paradigma e de signo. Já não é Prometeu que guia o Homem mas sim Noé. Já não é importante conquistar mas sim proteger. Mas o que é que temos de proteger? Desde logo a Liberdade, a Democracia, os Direitos Humanos, as diferenças de género, a infância, a velhice, as minorias – étnicas, raciais, culturais, religiosas – o Património Natural e Construído ou Histórico-Cultural, desde a arte em sentido lato ou em termos mais específicos a arquitectura, a escultura, a pintura, a literatura mas também as tradições. Mas o aspecto mais importante e a essência do paradigma de Noé é que o Homem se consciencialize que faz parte do Mundo e para sobreviver não o pode explorar de modo discricionário, tendo de salvaguardar e proteger o Planeta. A Internet e as NTIC – tecnologias produzidas já sobre o paradigma de Noé – têm e desempenham um papel importante nesse esforço de informação sobre a salvaguarda e o exemplo de Noé para insight da learning society e global village. Por um lado voltámos a ser Noé, e por outro, Adão, ou seja, zeladores do Éden que nos foi confiado. No dizer de Edgar Morin o Homem é um «ente bio-socio-cultural». Como tal é sua incumbência, obrigação e necessidade proteger o human environment, ou por outras palavras, todos os seres vivos e o Homem na sua ontogénese e filogénese.
Quem diria que milénios volvidos, se possa afirmar que vivemos na época de Noé, sob o seu signo e paradigma, e que afinal os deuses do Olimpo tinham razão quando castigaram e agrilhoaram Prometeu. Prometeu ofereceu o fogo sagrado ao Homem e por um lado, esse esteve na base da sua supremacia sobre a face da terra, mas por outro lado, incendiou e incinerou o Planeta. Já Noé não tem nada para oferecer. Outorga sim uma dádiva confiada ao Homem que lhe permite salvar-se da cheia e do dilúvio em que o Mundo se pode tornar se não for seguido o seu exemplo de salvaguardar, preservar e proteger.
CA
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