Westworld, estreia em televisão, desde 2 de outubro, restando apenas dois episódios para o final da 1.ª temporada, exibidos a 27 de novembro e 4 de dezembro, exclusivo do TVSéries, em Portugal, representa o spin-off de adaptação para série – produzida e transmitida pela HBO, canal megalómano norte-americano – do filme de culto homónimo, de 1973, que contava com o talento multifacetado do ator famoso Yul Brynner, retratando um parque temático futurista para adultos que oferece aventuras em ambiente de western. A sua criação e autoria pertencem ao escritor e realizador Michael Crichton, que, em moldes similares, concebeu o aclamado Jurassic Park.
Westworld prima pela trama e cenografias obscuras, dotadas de alguns momentos de horror ou terror físico e psicológico, decorrentes do quotidiano do parque temático, que sustenta como leitmotiv ou imagem de marca a inexistência de barreiras morais, limites éticos e físicos, ao oferecer aventuras em ambiente controlado assentes na dinâmica de interação entre os clientes humanos, descritos como guests, e humanoides, classificados como hosts, sintetizados a partir de industriosas impressoras 3D, programados para emular o comportamento humano e servir as estórias, fantasias e caprichos dos utilizadores do parque.
O conceito da série é simples e lúdico. Mas, na prática, revela uma intriga complexa, desde logo porque os robôs possuem a labilidade de serem mortos e voltarem reparados com personalidades totalmente diferentes, acicatando plot twists, voltes de face radicais e inesperados no enredo, ou talvez ainda mais sinistro, a possibilidade de um mesmo host mobilizar diferentes camadas de personalidades e estados de consciência.
A essência de Westworld, mais do que a aventura inconsequente, oferece aos clientes humanos a oportunidade de se descobrirem e conhecerem a si próprios, de mergulharem na sua psique e sub-inconsciente, premissas antropológicas bastante socráticas e freudianas, mas nesse processo existencial, participam máquinas programadas com a diretriz e fantasia perniciosas de acreditarem que são autênticos seres humanos.
Eventualmente, alguns dos hosts/robôs adquirem consciência da sua condição indigna, despertam facetas sombrias dormentes, logram aceder a memórias antigas, que se pensavam apagadas, protagonizam desejos de emancipação e autonomia, procurando, "aparentemente", o controlo e domínio do seu firmware, bem patente no comportamento da personagem Maeve Millay, aspetos indutores de hostilidades e, no limite, da revolta contra os seus criadores e os utilizadores do parque, mas que também favorecem alianças improváveis entre homens e máquinas.
Thriller, drama e ficção-científica, a alma de Westworld radica no talento e veteranice do ator Anthony Hopkins, através da personagem principal, Dr. Robert Ford, criador e director executivo do parque temático, o grande arquitecto, programador-mor e autor-chave da metanarrativa de ação e aventura western (bem ao estilo RPG do video-jogo Black & White). Ford simboliza o mestre por detrás de toda a trama sombria e misteriosa, digna do efeito de suspense granjeado por Alfred Hitchcock, personalidade nada estranha para Anthony Hopkins, que, aliás, encarnou o cineasta britânico, precisamente no filme Hitchcock, de 2012, contracenando com atrizes famosas: Helen Mirren, Scarlett Johansson, Jessica Biel...
É tudo muito complexo e reversível... Uma coisa é certa, Robert Ford é o "grande maçom", que mexe todos os cordelinhos. Na realidade, não conseguimos saber se a autonomia e revolta dos robós são aspetos reais ou simplesmente programadas por Ford, que parece estar sempre um passo à frente e no controlo de tudo, utilizando, em última análise, a sua criação contra os interesses corporativos corruptos que regem a parte comercial e empresarial do parque, concretamente a Delos Corporation, ao reverter o código que impossibilitava os hosts de fazer mal aos humanos, por forma a mobilizá-los na defesa do seu próprio "jardim", do seu Génesis, materializando o princípio romântico shakespeariano: "prazeres violentos têm fins violentos!"
É tudo muito complexo e reversível... Uma coisa é certa, Robert Ford é o "grande maçom", que mexe todos os cordelinhos. Na realidade, não conseguimos saber se a autonomia e revolta dos robós são aspetos reais ou simplesmente programadas por Ford, que parece estar sempre um passo à frente e no controlo de tudo, utilizando, em última análise, a sua criação contra os interesses corporativos corruptos que regem a parte comercial e empresarial do parque, concretamente a Delos Corporation, ao reverter o código que impossibilitava os hosts de fazer mal aos humanos, por forma a mobilizá-los na defesa do seu próprio "jardim", do seu Génesis, materializando o princípio romântico shakespeariano: "prazeres violentos têm fins violentos!"
Na holística da série, nesta 1.ª temporada, a existência de um labirinto secreto escondido no seio do parque temático, revelador da sua verdadeira natureza, identidade e propósito, a par das alusões à personagem enigmática Arnold, cofundador do theme park, sem sabermos se está realmente morto ou apenas incógnito no universo Westworld, constituem características pisco-dramáticas que adensam o mistério e o suspense.
Westworld catalisa o efeito Kafkiano, ao instigar a confusão surreal entre a realidade e a ficção, ao desafiar a concentração e perceção, ao motivar dúvidas sobre quem é andróide/robô ou humano, bem patentes na feição da personagem Bernard Lowe. Mais. Será possível que alguns dos humanos tenham duplos-robós?
Na realidade, esta série funde referências culturais da literatura clássica e universal com aportações da Psicologia, Sociologia, Filosofia e História enquadradas na matriz científica do socioconstrutivismo, bem como encena e especula sobre adquiridos ou teorias provenientes da Psicologia Comportamentalista – "Behaviour breeds behaviour" – a par de outras componentes concernentes à Psicologia Sócio-Cognitiva.
Em Westworld, sobressaem ambientes e cenografias tão perturbadoras quanto fascinantes. A série catalisa liberdades criativas inerentes ao uso da nudez artística ou gratuita, relativizada em função do plano ficcional, na medida em que não representam pessoas desnudas, mas sim meros robôs.
Grande parte do fascínio resulta do apelo estético e visual induzido pelos cenários fictícios e naturais, que reproduzem a bizarria das cidades e das paisagens poeirentas do Velho Oeste/Wild West.
Destacam-se os décores e os exteriores dos estúdios Melody Ranch (Newhall, Califórnia), Paramount Ranch (Agoura, Califórnia) e Mexicano Street Backlot, da Universal Studios (Los Angeles, Califórnia), mas sobretudo a acuidade sensorial proporcionada pelos cenários majestosos das paisagens naturais dos locais de filmagens, que oferecem panorâmicas e perspetivas aéreas espetaculares das montanhas, vales e pradarias de Santa Clarita (Califórnia) e das escarpas, desfiladeiros e planícies agrestes de Castle Valley e Fisher Valley, no Utah.
Westworld exibe influências de outros formatos cinematográficos e televisivos. As cenas de ação violenta, com direito a cowboys e pistoleiros, revisitam o género Western Spaghetti e o efeito Quentin Tarantino, bem ao estilo de Django Unchained (2012).
A ideia da aventura, a interação entre humanos e formas de inteligência artificial, bem como a confusão entre a ficção e a realidade, rodados em ambiente Sci-Fi, recuperam traços característicos de TRON: Legacy (2010), Total Recall (1990; 2012) e Avatar (2009).
As cenografias e trama de ficção científica obscuras entre homens e máquinas possuem algo de Matrix (1999-2003), assim como o tom e os contornos surrealistas projetam algo de Inception (2010). O conceito da série, ao colocar robôs no Wild West, é tão mirabolante quanto Cowboys & Aliens (2011).
Os antagonismos e conflitos que se adivinham, entre homens e máquinas, remetem obrigatoriamente para Terminator (1984-2015), Terminator: The Sarah Connor Chronicles (2008-2009) e Blade Runner (1982).
A inexistência de limites morais, oferecida pelo parque temático aos seus utilizadores, denota uma certa influência de Caprica (2010) – integrada na saga Battlestar Galactica –, no aspeto relacionado com o mundo virtual paralelo possibilitado pela tecnologia holoband, disponibilizada pela Gray Industries.
O estilo RPG do parque temático, em ambiente aberto relativamente às escolhas do jogador, permite comparações com o video-jogo Saints-Raw e, talvez, GTA.
As voltas e reviravoltas do enredo são semelhantes à dinâmica granjeada por séries de culto como Lost (2004-2010), Battlestar Galactica (2003-2009), Fringe (2008-2013), entre outras.
Westworld surpreende na qualidade e gabarito do elenco:
– Conta com a craveira de Anthony Hopkins e Ed Harris;
– Confere protagonismo a James Marsden – o famoso Scott/Cyclops, dos filmes X-Men, do início do séc. XXI –, bem como à atriz talentosa e esbelta Evan Rachel Wood.
– Beneficia da competência cénica e voz protuberante de Jeffrey Wright, que participou recentemente em The Hunger Games;
– Exibe a experiência e figurino moreno exótico da atriz Thandie Newton, protagonista de Missão Impossível 2 (2000) e associada a filmes como RocknRolla (2008) e 2012.
– Integra o afamado Rodrigo Santoro, mais conhecido pelo papel do rei persa Xerxes, em 300 (2006).
– Integra o afamado Rodrigo Santoro, mais conhecido pelo papel do rei persa Xerxes, em 300 (2006).
O restante elenco base e de apoio são compostos por atores e atrizes mais ou menos ilustres, tanto no universo do cinema como da televisão.
De igual modo, entre os produtores de Westworld, evidenciam-se J. J. Abrams e Bryan Burk, dupla dinâmica responsável pela recriação de êxitos cinematográficos, tais como: Missão Impossível, o remake de Star Trek, e a continuação da saga Star Wars.
Toda a entourage e sonância de Westworld fazem com que, à partida, já tenham sido contratadas 5 temporadas. Este thriller de suspense e mistério épicos é o novo blockbuster do canal HBO, depois de Game of Thrones.
CA
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