The Crown – estreia em televisão a 4 de novembro – representa na forma de mini-série o drama de época sobre os primeiros anos do reinado de Isabel II de Inglaterra. Constitui a mais cara produção de sempre entre os géneros de entretenimento audiovisual dinamizados e distribuídos pela rede de streaming e plataforma multimédia Netflix, que dispõe de orçamento superior a 100 milhões de euros.
Drama, História e biografia The Crown situa-se no pós 2.ª Guerra Mundial, entre os anos 40 e 50, reconstitui de forma meticulosa o ambiente histórico-cénico, centra a narrativa na juventude da monarca britânica, retrata o seu casamento com Filipe Mountbatten/Duque de Edimburgo, em 1947, a par do falecimento e funeral do seu pai, o rei Jorge VI – interpretado pelo ator renomado Jared Harris –, em 1952, resultante na sua ascensão ao trono inglês, coroada como Isabel II, em 1953, com apenas 25 anos, salientando-se a título de curiosidade, que foi a primeira coroação a ser transmitida pela televisão.
Na essência The Crown personifica um drama exuberante sustentado na performance valorosa e competente do elenco servido por indumentárias e cenários sumptuosos, sobressaindo a riqueza, o luxo e o fausto do décor de interiores, bem como a beleza da paisagem escocesa que rodeia o palacete que em termos ficcionais corresponderia a uma das herdades da realeza britânica.
A mini-série não tem a pretensão de ser chocante nem populista. Nessa medida, demarca-se do registo de sexo, nudez e violência gratuitos, característico de algumas versões cinematográficas e televisivas que retratam o reinado de outros monarcas ingleses ou que representam a imagem de marca de intrigas históricas ou ficcionais sobre a luta e conquista de poder, mobilizadoras de grandes audiências, como por ex., Game of Thrones.
The Crown oferece sobretudo intensidade dramática proporcionada pelo conflito entre a vida pública e o lado íntimo de Isabel II interpretada a preceito pela atriz Claire Foy. As obrigações da Casa de Windsor e as responsabilidades governativas colidem com o seus desejos e vontade pessoal. Mais. Grande parte do interesse da mini-série sustenta-se nessa dinâmica de oposição entre a faceta pública e privada da jovem monarca e mulher dividida entre o dever, o exercício do poder, a vida interior e os seus pensamentos íntimos.
Claro está que a intriga política ocupa lugar de destaque. Com efeito, The Crown explora a construção da relação pessoal e o moldar da interação política entre a rainha Isabel II e o primeiro ministro britânico Winston Churchill – interpretado pelo ator John Lithgow o famoso Dr. Dick Solomon da série de comédia 3rd Rock From The Sun (1996-2001) –, durante 3 anos até à sua renúncia do "gabinete" em 1955, realçando-se o simbolismo da ascensão ao trono de uma jovem monarca na flor da idade – apenas 25 anos –, contrastante com o envelhecimento e a relativa perda de popularidade por parte do estadista carismático (à época com 73-81 anos equivalente a 1947-1955) que liderou a Grã-Bretanha nos tempos conturbados da 2.ª Guerra Mundial.
De igual modo, no plano da contextualização histórica retratada na mini-série importa referir os desafios políticos colocados no início do reinado de Isabel II inerentes a mudanças de natureza da monarquia constitucional no Reino Unido a par do declínio do Império Britânico – que resultou na composição e estruturação da Commonwealth – compaginado com o configurar de uma nova ordem mundial, bipolar, de Guerra-Fria entre USA vs URSS.
Mais na perspetiva da História da Vida Privada, The Crown promete revelar alguns segredos da família real britânica, através de pequenas intrigas como por ex., o romance entre Margaret – irmã de Isabel II – e Peter Townsend o camareiro do rei Jorge VI.
The Crown baseia-se na peça de teatro The Audience (2013) escrita por Peter Morgan, o mesmo criador desta mini-série, bem como em factos reais reconstituídos através de pesquisa histórica rigorosa repartida por fontes documentais oficiais e fontes orais ligadas à Casa Real Britânica.
O guionista, produtor e ator Peter Morgan confirma a sua apetência para encenar o drama político-pessoal a par da predileção pelo reinado de Isabel II – o mais longo no Reino Unido, prestes a atingir a longevidade de 65 anos –, na medida em que rubricou a autoria do filme The Queen de 2006, que permitiu a Helen Mirren ganhar o Óscar de melhor atriz por interpretar precisamente a rainha Isabel II nos eventos que se seguiram à morte trágica da Princesa Diana. A criação e autoria de Peter Morgan associam-se a outros filmes galardoados ou reconhecidos pelo grande público: O Último Rei da Escócia (2006); Frost/Nixon (2008); The Other Boleyn Girl (2008) que promove o trio amoroso entre as irmãs Bolena e o rei Henrique VIII/Tudor, contando com a interpretação de Eric Bana, Natalie Portman e Scarlett Johansson; e, por fim, no universo da F1 Rush (2013).
The Crown exibe as marcas de estilo, ambiente e cenografias próprias do cinema e realização britânica, aliás, a crítica sustenta comparações com a série de TV Downton Abbey (2011-2016).
Enquanto mini-série causa muito boa impressão. Bem filmada, encenada e produzida atinge scores elevados na metacrítica, inclusive prevê-se a realização de 6 temporadas. Além do interesse que suscita a diferentes telespectadores The Crown será certamente uma das séries galardoadas nos próximos anos.
Por último, partilho a sinopse oficial da Netflix com o intuito de aguçar a curiosidade: «The Crown focuses on Queen Elizabeth II as a 25-year-old newlywed faced with the daunting prospect of leading the world's most famous monarchy while forging a relationship with legendary Prime Minister, Sir Winston Churchill. The British Empire is in decline, the political world is in disarray, and a young woman takes the throne....a new era is dawning. Peter Morgan's masterfully researched scripts reveal the Queen's private journey behind the public facade with daring frankness. Prepare to be welcomed into the coveted world of power and privilege and behind locked doors in Westminster and Buckingham Palace... the leaders of an empire await.».
CA
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