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HARDWIRED... TO SELF-DESTRUCT – Metallica


Hardwired... to Self-Destruct – lançado em 18 de novembro – representa o 10.º álbum de estúdio de Metallica, talentosa banda californiana de Heavy Metal, difundido nos formatos comerciais de cd-duplo ou triplo, no caso da versão Deluxe limitada que inclui algumas músicas interpretadas ao vivo.

A musicalidade e o teor das letras que caracterizam o conjunto de composições inéditas e originais sugerem o recuperar de símbolos e imagens de marca genuínos de Metallica, ao revisitar as temáticas da Decadence servidas pela sonoridade mais hardcore
A estridência e a crítica mórbida são o seu cartão de visita, implícitos, desde logo no espectro algo desolador da iconografia da capa do álbum, constituindo formas de expressão cultural utilizadas pela banda de Los Angeles para manifestar emoções, sentimentos inconformistas e insidiosos sobre as perversidades do progresso, os males da civilização ou simplesmente ecoar o grito de revolta em relação à marcha do mundo, catalisadores de toda a força e energia transmitidas pelo Heavy Metal.

O som e mundivivência obscuros protagonizados na índole artística de Metallica, podem afigurar-se soturnos, inclusive instilar temores maniqueístas. Não obstante, a sua compreensão é tão próxima e inócua quanto as seguintes referências culturais:

– A devoção Ars Moriendi e o folclore escatológico do mundus senescit medievais;
– A Divina Comédia de Dante;
– O mito de Fausto;
– As narrativas de Goethe e Schiller;
– A filosofia de Nietzsche;
– A poética de Edgar Allan Poe;
– O humor grotesco de feição humanista e renascentista de François Rabelais;
– A prosa gótica retratada nos contos dos irmãos Grimm;
– O humor negro de filmes dos irmãos Coen;
– Os contos e romances sombrios de horror e ficção científica de Stephen King;
– O negativismo que perpassa nas Distopias.

Tais analogias literárias podem soar abusivas e pretensiosas, mas na realidade correspondem a inúmeras facetas artísticas da música pesada rubricada por Metallica. Mais. No alinhamento de Hardwired... to Self-Destruct, na música de tom taciturno Now That We're Dead encontramos nos versos do refrão «All sinners, a future. All saints, a past» que não são mais do que a paráfrase do pensamento dinamizado pelo dramaturgo romântico Óscar Wilde: «Every saint has a past, and every sinner a future.».


Na sua essência Hardwired... to Self-Destruct personifica uma forte cavalgada Heavy Metal compassada com momentos de galope Hard Rock e de marcha do Trash vicioso, sobressaindo o instinto marcial dos riffs, a vibração e estridência das guitarradas. A sonoridade Metal emula, em parte, a envolvência granjeada por Iron Maiden, bem patente na música Moth Into Flame, enquanto que a mordacidade, diferença de ritmos e o efeito de balada proporcionados pelo Trash relembram a mística de Nirvana, explícita na música Halo on Fire. O álbum musical adota ainda o formato e lógica da Ópera Rock estilo Queen inerente a faixas sonoras extensas, de 6 a 8 mins cada.

Hardwired... to Self-Destruct oferece a voz áspera, refilona e arpejos relampejantes do líder, vocalista e guitarrista James Alan Hetfield a par da qualidade técnica dos riffs marcantes e efeitos de percussão executados pelo exímio baterista Lars Ulrich, bem como o "dedo certo no gatilho" do baixista Robert Trujillo e do guitarrista Kirk Hammett. 
Porventura peca por excesso, na medida em que as músicas são bastantes extensas, resultando num álbum musical demasiado longo, com cerca de 80 mins, causador da impressão de que os motes, refrões e frases provocatórias das letras são algo repetitivos, aspecto que poderá desafiar a resistência tediosa dos fãs mais aficionados. Aconselha-se a audição por pequenas doses.



A crítica enaltece Hardwired... to Self-Destruct, conota-o ao trabalho discográfico mais consistente de Metallica, nas últimas duas décadas, glorifica a sua carreira ilustre de 35 anos. Soa a algum exagero, na medida em que é difícil recriar e rivalizar com o sucesso comercial e sóciocultural do álbum ex-libris S&M interpretado e gravado ao vivo conjuntamente com a Orquestra Sinfónica de S. Francisco, no Berkley's Community Theatre, em 21 de Abril de 1999, promotor da fusão da força do Heavy Metal com o sentido épico da Música Clássica, talvez o momento mais dourado da banda californiana de L.A.

CA

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