O título do filme, à partida, pode parecer vago e indiciar alguma monotonia... mas para todos os que empreenderem o seu tempo a vê-lo, certamente o qualificarão de hilariante e repleto de nuances e pormenores...
Um pouco de Wiittgenstein, um pouco de Freud, uma pitada de Piaget, Pavlov e Vygostky, tudo doseado e temperado com o humor e sarcasmo britânico, encenados por dois grandes actores e actriz, detentores de vozes proeminentes e de grande competência cénica – Colin Firth; Geoffrey Rush; Helena Bonham Carter –, eis o segredo para se transformar um filme que gira em torno da gaguez e de um discurso do Rei George VI, de Inglaterra, marcando a entrada bélica na II.ª Guerra Mundial, em episódio interessante e engraçado de acompanhar.
A metragem privilegia o plano facial das personagens e coloca-nos num universo de tons acinzentados como não poderia deixar de ser quer pelo facto do objecto e tese do filme se tratar de um discurso, bem como pelo enquadramento, a cidade de Londres. A película tem ainda o mérito de conseguir transmitir o carácter de novidade de certas inovações tecnológicas que à época – não muito distante de nós – tomavam lugar, como foi o caso da rádio, do microfone, do cinema sonoro etc...
Como destaque escolho a cena caricatural que apõe as capacidades e dotes discursivos de George VI aos de Adolf Hitler, a afasia e gaguez titubeante em contraste com a magistralidade, teatralidade e monumentalidade, corroborado na frase de George VI de reacção ao discurso de 1933, de A. Hitler: "Não sei o que ele diz, mas o que diz parece dizê-lo muito bem!"... Quem sabe se não foi por dar ouvidos sem pensar no que era dito que a Europa Nazi acabou por ter o seu triste lugar na História.
CA
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