One More Light – lançado em 19 de maio – representa o 7.º álbum de estúdio de Linkin Park. A sonoridade imerge no núcleo duro melódico das baladas criadas e interpretadas pela banda californiana. O trabalho discográfico plasma a aparente inversão da identidade musical, na medida em que se demarca das características pesadas da matriz Nu-Metal de fusão, para se situar nas tendências, modas e cosmopolitismo da Pop-EDM – Electronic Dance Music – a par da eufonia mainstream da Eletro-Pop.
A envolvência sui generis sustentada no equilíbrio entre a distorção atonal e o efeito harmonioso granjeado pelas canções de Linkin Park, resultante do sincretismo do Metal Alternativo com outros géneros musicais, tais como Rap-Rock, Rap-Metal, Hip-Hop, Electro, Indie-Rock, Rock Alternativo, Heavy Metal, mais algumas influências do Post-Grunge e inclusive do Trash, cede lugar a ritmos mais leves, apropriados ao verão, propensos a animar uma sunset party ou qualquer outra forma de entretenimento vespertino e lazer noturno.
Na musicalidade catalisada por One More Light, o canto rasgado e, por vezes, aberrante de Chester Bennington, acompanhado pela estridência das guitarras elétricas e do contrabaixo, mais o tom estrondoso da bateria, são sobrepostos pela euritmia dos acordes de teclados, arranjos ou efeitos eletrónicos e de alguns instrumentos acústicos, assim como a percussão emula a cadência mais mexida ou compassada do R&B. No global, o álbum repercute a atmosfera introspetiva intrínseca a baladas melodiosas e reflexivas, bem ao estilo da Pós-Disco e New-Wave.
Na essência, esvanece a revolta e neura juvenil personificada nas músicas de Linkin Park, através do registo de som que, durante três décadas, materializou diferentes perceções e representações insidiosas da urbanidade. Contudo mantém-se a sonoridade urbana sofisticada recíproca à mundivivência pós-moderna das letras repletas de motes inspiradores, atributos que sugerem aportações às feições mais intimistas da Dream-Pop. Mais. As composições Pop-EDM dinamizadas por Linkin Park, além de competentes, diferenciam-se da toada melosa, aliás, numa perspetiva de conservatório, a sua produção e interpretação respeita pautas, escalas e compassos.
A crítica deprecia One More Light, por preterir as bases fundacionais do New-Metal em função da integração no mercado saturado da Eletro-Pop, alegando a total descaracterização da identidade da banda. Na realidade, causa alguma estranheza inicial ouvir Bennington interpretar vocais adocicados e melodiosos, a ponto de completar refrões mediante a reverberação de “uh uh uh…”, melopeia tamanha capaz de provocar um surto psicótico ou síncope – para não dizer fanico – ao mais purista dos fãs de Linkin Park. Mais parece que aprisionaram a fera, Bennington, negando-lhe a fruição da ferocidade habitual: ao invés do temperamento sanguíneo prima a índole fleumática do fade.
Na individuação das faixas sonoras do álbum, o ADN da banda californiana subsiste em algumas das nuances de Good Goodbye, conjuntamente com a vertigem rítmica entre o verso e refrão de Talking to Myself.
No conceito musical subjacente ao álbum One More Light, a banda Linkin Park abdica da consolidação da craveira para dar largas à veia artística. Mas, apesar de preterirem as feições mais pesadas do Nu-Metal, as melodias Eletro-Pop e Pop-EDM primam pela qualidade, apanágio repercutido na notoriedade do sucesso comercial. Os rapazes cresceram, amadureceram, estão menos meteóricos e mais tranquilos. Não é grave. As canções continuam a ser das boas.
CA
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