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BAD ASHLEY – (Reflexão)

Sem nenhuma amargura ou sequer estupefação perante qualquer tipo de comportamento afetivo e sexual, até porque parafraseando o aforismo salomónico "não existe nada de novo debaixo do sol", observo e afirmo com laconismo que me parece de todo bacoco e incauto esta industrialização e comercialização da infidelidade/adultério via web, prometendo como leitmotiv facilidade de "engajamento" e privacidade absoluta miscigenada quiçá com a fantasia de "nunca sermos descobertos"! 
Diria que somos presas fáceis no ciberespaço, na medida em que todo o conceito desse negócio se sustenta na intermediação e por muito bom que seja o algoritmo, ao ser desenvolvido por humanos e operar na internet, a promessa de sigilo e confidencialidade reduzem-se a vã ilusão.
Todo este pensamento na sequência do "escândalo" relacionado com o hackear do site Ashley Madison dedicado à extraconjugalidade. 
Paradoxal é que neste pedaço do mundo e civilização ocidental, à partida liberta de grilhões confessionais e vinculada quotidianamente à emancipação e liberdade sexual/afetiva, se subscreva de forma massiva esse género de domínios, com a representatividade de 32 milhões de utilizadores que assistiram ao esboroar público da sua intimidade e frivolidades venéreas. Perante tal devassa, as autoridades policiais demonstram-se apreensivas quanto à possibilidade da ocorrência de uma onda de crimes passionais motivados por ódios entre os triângulos amorosos e sobretudo irascibilidade dos caríssimos "encornados"!
No meio de todo o charivari gerado afigura-se mais importante criar um ponto de reflexão, em virtude do episódio personificar o que temos perdido enquanto homens e mulheres. Coragem, arrojo, determinação para assumir ou repudiar as paixões, a libido, os impulsos orgiásticos, os fétishes, os gostos e as preferências afetivas e passionais, capacitando-nos para lidar de modo maturado com as consequências de qualquer natureza, as emoções e os sentimentos, sejam negativos como a vergonha ou positivos como a auto-congratulação entre outras qualidades hedónicas. A esse propósito ou à falta dele registam-se 2 suicídios mercê do pouco acintoso desvelar digital das "escapadelas".
No contexto das perceções e representações que regulam e personalizam a prática em que consistem os afetos e a sexualidade, este epifenómeno da infidelidade via web demonstra a tendência ontológica pós-moderna de fraqueza e sobretudo covardia, ao ponto de pagarmos e permitirmos ser explorados por este tipo de domains da internet (a menos que sejamos empreendedores e/ou "profissionais do sexo", nesse caso é uma forma de abordagem e captação de mercado, portanto investimento) que não fazem mais do que estruturar em negócio e converter em lucro as vertentes pusilânimes, falsas e venalidades da nossa personalidade e comportamento.  

Bad Ashley! Diria...
CA

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