O universo fantástico da saga Star Wars granjeou fãs por todo o mundo. Muitos de nós já "brincámos" à "Guerra das Estrelas" ou jogámos um ou outro vídeo-jogo votado a um dos VI episódios.
Uns serão mais fãs que outros, mas de imediato, com maior ou menor acuidade identificamos e relacionamos personagens como Master Yoda, Anakin Skywalker, Darth Vader, Obi-one Kenobi, Han Solo, Luke Skywalker, ou até mesmo termos como Jedi, Sith, Milenium Falcum, Death Star... and so on and so on.
É inegável o impacto, a influência e marca cultural que Star Wars imprimiu na civilização da "aldeia global", "era da informação" e NTIC.
Esse mérito deve muito à natureza multiculturalísta desta épica odisseia espacial, desprovida de qualquer vício e preconceito etnocêntrico.
Com efeito Star Wars consubstancia a perfeita simbiose e miscigenação de culturas, tempos, espaços e civilizações remotas entre si.
São algumas dessas referências e representações servidas ao espectador à la carte e à la mode que vos proponho desvendar.
Comecemos pelo domínio e espectro político. Sobressaem dois sistemas em confronto: a República e o Império. A alusão à História do Império Romano é óbvia, mas os meandros apresentados estão deveras em consonância com a organização e novela política norte americana mais actual.
Assim como os romanos lograram o controlo total do mediterrâneo – mare nostrum –, a República dos Jedi ou o Império dos Sith procuram unificar e dominar todo o espaço galáctico.
A este nível destaca-se apenas uma nuance mais bizarra, assente no facto da República ser dirigida e governada à cabeça por um Chanceler Supremo, constituindo uma reminiscência bastante Bismarckiana ou um tique de Sumo-Pontífice! Ainda assim, os pretorianos, guarda pessoal do Chanceler são em tudo autênticos tribunos e centuriões romanos.
Ao nível da paisagem, populações, arquétipos, estereótipos, arquitectura, arte de uma forma geral, perpassam diversificados estilos.
Tatooine – planeta natal de Anakin e Luke – parece enunciar um urbanismo e motivos bastante islâmicos. O centro do planeta assemelha-se a uma Medina com uma ou outra influência romana, fundamentalmente visível numa espécie de hipódromo onde se fazem corridas de pods supersónicos e que está na origem de uma cena que recria à letra o filme Ben-Hur.
Por outro lado, o senhor de Anakin, enquanto esse é um mero escravo, define-se como uma autêntica caricatura de mercador Árabe.
Nos arredores, zonas onde habitam os agricultores de humidade, as casas parecem edifícios coptas.
Já o território dos Tuskens – aka sand people – evidencia influências nómadas berberes, dos povos indo-europeus itinerantes e dos mongóis.
Ainda neste planeta, o caudilho local Jabba The Huth quer nos seus domínios quer na sua figura, em tudo parece decalcar um Califa. Nota caricatural ainda para a sua "corte" que assume feições publicitárias ao universo dos "marretas"!
Coruscant – planeta capital da República e Império – é uma espécie de Manhattan futurista super povoada e super urbanizada.
Alderaan ou Naboo – planeta de Padmé – evoca a arquitectura renascentista temperada com traços clássicos, neo-clássicos e bizantinos.
Apesar desse ambiente visual, os elementos componentes do séquito da rainha parecem monges tibetanos, contrastando com a sua guarda pretoriana que mais parece um bando de clones de L. Byzon tirados do arcade Street Fighter.
No planeta habitam ainda os Gungans que mantém uma espécie de Atlântida submersa, dispondo de uma tecnologia de cunho panteísta, cultivando uma convivência pacífica, harmoniosa e de osmose com a natureza.
O planeta natal de Master Yoda no sistema Dagobah é em tudo uma espécie de Amazónia jurássica, enquanto que a forja e arsenal da Federação de Comércio, o planeta Geonosis é uma espécie de colmeia gótica e gargulesca.
A lua onde é lançada a vaga de aeronaves para tentar destruir a Estrela da Morte é uma espécie de ambiente Maia ou Azteca.
Já Kamino planeta dos especialistas em clonagem matiza uma autêntica talassocracia. Por seu lado, o planeta vulcânico Mustafar é uma fundição geotérmica megalómana, enquanto que o planeta de Lando Calrissian é uma espécie de cidade mineira celeste, ambos apresentando um registo de Revolução Industrial futurista.
Nas personagens destaque para os caçadores de troféus que são uma espécie de cowboys espaciais – star sherifs – o que acaba por conferir a espaços um ar de space western, em mais uma referência histórica, neste caso à lei do far west.
Os Jedi estão organizados sob a forma de uma Ordem – forma de associação de raiz medieval – com feições militares, políticas, espiritualistas e religiosas.
Por um lado são cavaleiros – quase com se fossem templários –, mas assumem feições islamizadas no que concerne à sua arma de combate, os sabres, apesar da sua linha futurista, visto serem sabres de luz.
Já o termo Jedi é japonês. A sua agilidade, destreza e forma furtiva de agir e elegante de combater em tudo cultiva o espírito samurai e shinobi.
O perfil psicológico dos Jedi remete para numerosas escolas de pensamento ou confissões de ordem espiritualista e transcendental. O Jedi detém uma cultura e mentalidade que eiva estoicismo, epicurismo, tauismo, confucionismo, budismo, mas integra aspectos do método socrático, do racionalismo e positivismo científico.
O Jedi está longe de ser dogmático ou escolástico, mas na sua forma de ser, de estar, de agir, de se relacionar, assim como o seu saber e competências, em tudo participam da ascese e katarsys misturados com ideais de ataraxia, controlo emocional pleno e meditação doseada quer por egotismo quer por altruísmo.
A sede dos Jedi é um templo em forma de pirâmide, mas que no seu topo possuí torres ou cuspides budistas, ilustrando por si só o seu principio de vida. Desde tenra idade crianças são tomadas como oblatas e neófitos, sendo levadas para o templo de modo a ser-lhes administrado treino e formação nas "artes" Jedis. No decurso dessa espécie de "trivium e quadrivium" tornam-se padawans (aprendizes) tuturados por um Mestre e mentor – alusão à figura do pedagogo – e no final desse percurso são admitidos como Jedis de pleno direito, renovando-se este ciclo ininterruptamente.
Vivem num templo – que parece ser a sinestesia de Guizah, Hagia Sofia e Meca – de forma cenobitica e monacal, seguindo uma espécie de regra que é ao mesmo tempo código de honra – tal como o código de cavalaria medieval –, submetidos a uma hierarquia, à cabeça da qual está o concílio dos Mestres Jedis mais experientes, que tem tanto de Capítulo como de Tabula Redonda.
Quanto mais não fosse a onomástica de um dos Mestres mais poderosos dos Jedi fala por si. Com efeito Master Yoda faz par mínimo com Master Yoga.
Os poderes dos Jedis tem tanto de zodiaco como de heróis de banda desenhada que como é óbvio constitui uma referência indirecta obrigatória.
É incontornável em filmes desta magnitude e dimensão astronómica a recorrência a proporções e referências Bíblicas semelhantes. Em Star Wars o nascimento de Anakin é descrito como semelhante ao de Jesus – sem concepção física – apenas como manifestação dos entes ou elos que unem todo o universo vivo, conhecidos pelo termo meio científico meio religioso de midi-clhorians, uma espécie de élain ou nous ordenador e nirvanista que une todos os planetas e seres vivos.
Mas, quanto mais não fosse, a axiologia que orienta todo o plano narrativo e de acção guia-se pelas directrizes da lei dos contrários patente na bipolaridade entre o bem, a luz – Jedi – e o mal, as trevas, the dark side – os Sith – não obstante, dois pólos de uma mesma crença, meia fé meia ciência que dá pelo nome de "A força" – the force.
Claro está que tratando-se de filmes de vertente ficcional futurista torna-se mister a alusão a temas contemporâneos como são o caso da robótica, da cibernética, da clonagem e especulações da área da física sobre hiperespaço e viagens estelares, que convivem lado a lado com escritas ideográficas e pictográficas até mesmo hieroglíficas e cuneiformes e ainda línguas consonantes, vocálicas e fonéticas inventadas a preceito por George Lucas e a sua entourage.
Em jeito de remate afirmar-se-à que Star Wars coloca em alto relevo num plano de fundo futurista, de uma era espacial, diversas idiossincrasias. Se há cena que plasme essa circunstância é a batalha no planeta gelado "ironicamente" denominado de Hoth entre a "resistance"/rebeldes e o Império, que mais parece extraída da 2.ª Guerra Mundial com direito a trincheiras, blindados e caças em voo raso.
Tudo pode parecer futurista e longínquo ou apenas à distância de um Júlio Verne, mas sem sombra de dúvida que tudo aquilo que se apresenta é disposto numa trama de ficção científica que na sua essência assume todos os traços da contemporaneidade sendo perfeitamente pós-moderno.
CA
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