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A VIDA ENTRE NOTAS DE RODAPÉ – (Introspecção)

No culminar e epilogo do cursus honorum de mais uma etapa do percurso académico eivam no meu espírito e temperamento emoções contraditórias. Sobressaem e perpassam as pessimistas. Sim. Incompreensão e desamparo. O que me "safa" é que o corpo humano é 70% de água e eu, bom nadador, tenho conseguido manter-me à tona. Nunca perdi o sentido de orientação mas começo a não ter "estômago" para aturar certas situações.

Tomei consciência que não vale a pena transpirar por determinadas causas, objectivos e metas, sobretudo se forem propostas por outrem. Sei qual é o meu valor, assim como sei reconhecer o valor dos outros. A valorização ou desvalorização que façam de mim nada diz sobre as minhas capacidades, competências e empenhamento e de forma alguma serve para alimentar ou melindrar o meu ego, acariciar o goto ou roer o fígado. De resto, quem me valoriza ou desvaloriza por mais próximo, solícito e cooperante que seja, nada conhece, é um estranho absoluto ante o meu esforço, entrega e superação. Nada conhecem sobre a minha felicidade ou infelicidade, realização ou frustração. Nunca me viram chorar lágrimas de sangue! Para eles não passo de mais um apêndice ou anexo.

Em caso de dúvida é favor consultar o índice remissivo. Mas esses são como as pessoas, nada sabem, nada dizem, só remetem para ali ou para acolá, empurram para A, B ou C...

Começo a odiar a madame ficha de leitura que faz troça de mim: "escreve meu jovem monge copista!" Vivo num cárcere metodológico. Vejo-me num campo de trabalhos forçados. Aconselham-me a ir mais a fundo, a ser mais complexo quando o que eu desejo é ser simples. Tudo o que é verdadeiramente complexo é simples, não complica, simplifica.
Abomino o autoritarismo paternalista e maternal que pululam de forma transversal no ensino. Sou maior de idade, sei quais são as minhas ambições e conquistas.
Impossível de aturar é a liturgia em que o ensino recai. São quase 20 anos a levar missa! Mas não perco a calma. Se de uma só vez Martinho Lutero conseguiu escrever 95 teses, eu que só tenho de escrever uma devo de a conseguir!
Há quem tenha a vida mais facilitada, pelo pouco que fazem ou até mesmo nada, estão predestinados, beneficiam de marketing e clientelismo Calvinista. Entre teses luteranas e predestinados calvinistas, se é para protestar prefiro ser Henricamente Anglicano!

Vivo no mundo da nota de rodapé. Mais. A minha vida tem passado em rodapé. Aliás, quando informo os meus amigos do que faço sou confrontado com a pergunta: "Mas que porcaria – com M – é essa?" E pronto, fico logo a saber que o que eu faço é porcaria – com M – mas pelo menos é porcaria com notas de rodapé!
O meu trabalho dia após dia é chocar o meu ovo de Colombo. Embora todos estejamos convencidos de que Colombo fala a verdade é necessário que Colombo faça a viagem para comprovar que o seu ovo não sai galado! De Lisboa a Calecut distam 3 anos de distância para que aqui o Vasco possa provar a sua Gama e prestar provas em Bolonha.
Sinto-me obeso intelectual, a necessitar de emagrecer a erudição praticando o exercício da diversão! Loucos anos 20, sempre à procura de evasão!

Todo este enui e katarsys evapora pelo afago carinhoso da bela loira manequim que do alto dos seus stiletos serve-me café e alivia o tilintar da minha carteira pedindo-me moedas para me dar nota. Qual será a minha nota? O que é certo é que nos notámos um ao outro. Com mão e suave tato diversas vezes debruçou-se no meu ombro. Tão suave sensibilidade e percepção arrepiou-me. O arrepio tornou-se em flash erótico. É possível ficar apaixonada por um momento como este? De regresso a casa pedonando até ao carro a brisa ofega iodo e o espírito suspira pelo respirar de um novo encontro!

CA


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