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A MEDIOCRIDADE DO PERFIL – (Reflexão)

A rentrée está aí e com ela os 45.000. São professores mais ou menos jovens, recém-licenciados ou que cultivam o gosto paciente de apenas figurar nas listas do concurso nacional, tendo-se dado previamente ao trabalho de preencher a candidatura on-line sem mácula. Este é tão-só um dos números que se atiram para o ar no arranque do ano lectivo e que não traz nada de novo.

Há porém outros números que convém ter em conta: os que figuram no relatório «Perfil do Sistema de Ensino», de Maio do corrente, onde encontramos dados do Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE). Se quisermos fazer as contas a olho – como convém à politiquice – podemos dizer que basicamente o número de professores diminuiu enquanto que o número de alunos aumentou. Logo, dá mais alunos por cada docente. Mas não: alicerçada nos convenientes dados da OCDE, Maria de Lurdes Rodrigues revelou a sua brilhante leitura: Portugal é o país com menor número de alunos por professor! No primeiro ciclo, apenas 11 criancinhas, quando na Holanda e na Irlanda este ratio é de 16 e 18, respectivamente. No secundário há ainda mais motivos para estarmos orgulhosos: sete alunos por cada docente. Ficam por explicar tão-somente o abandono e o insucesso escolar dos privilegiados petizes da nossa pátria.

Talvez um corpo docente de elite pudesse ajudar a combater o flagelo nas escolas públicas. Mas até hoje ninguém pensou no assunto. Ora veja-se. Houve necessidade de formar professores, criaram-se as escolas superiores de educação. Para uma massa crescente e indiferenciada de alunos, uma massa crescente e indiferenciada de professores. A carreira tornou-se aliciante até para aqueles que não levavam jeito para mais nada. (Um “viva!” à abertura que as universidades demonstraram para com esses sujeitos.) Volvidas algumas décadas e invertido o cenário, assobia-se para o ar, se houver vontade ou fôlego.

Na minha humilde opinião, talvez valesse a pena levar a cabo um estudo que estabelecesse uma relação de equilíbrio entre a formação superior dos professores e as necessidades do Ministério da Educação, de modo a corrigir o «desajuste» entre aquela e estas. Maria de Lurdes Rodrigues reconhece o «desajuste», mas fica por aí. É pena que a Ministra não queira tirar todas as conclusões desta realidade.

Uma das primeiras seria o encerramento das escolas superiores de educação. Até porque a Ministra, ao afirmar que «O 1º e 2º ciclos do ensino básico não estão em crescimento», parece conhecer dados que reforçam essa necessidade. E não se pense que daqui a alguns anos lamentar-se-ia o fecho dessas instituições. A verdade é que o excedente de professores, que hoje se verifica (para além dos recém-licenciados, há 8. 239 professores provenientes de todos os estabelecimentos de ensino publico e privado que no ano lectivo de 2006/07 não continuaram em funções), com a devida triagem, poderia constituir uma elite para os próximos cinco anos, pelo menos. Depois, já haveria tempo para planificar a médio prazo a formação de professores em função das necessidades do sector educativo.

Outra conclusão seria a abertura de vagas nos cursos “via ensino” das faculdades ditas “tradicionais” em função das necessidades do “mercado” educativo. Mas para isso seria necessária uma reforma no ensino superior que levasse os órgãos directivos de cada instituição a impedir que os planos curriculares dos cursos que oferecem (força de expressão…) sejam traçados com vista à manutenção do professor X ou Y na instituição ou das suas preciosas cadeiras, que não querem ver fechadas custe o que custar. Parece simples, mas não é. Sem o curto balão de oxigénio da formação de professores, muitas faculdades ficariam limitadas à investigação. E essa via atrai ainda menos alunos. Não pela falta de talento, mas pelo relativo bom senso. É que em Portugal uma boa parte dos investigadores paga totalmente as despesas do seu trabalho… E nem todos tem vocação para serem heróis intelectuais pelos sacrifícios que fizeram…

Por último, acresce perguntar: alguém ouviu um comentário relativo aos 45.000 da parte do Ministro Mariano Gago ou dos órgãos directivos das instituições responsáveis (novamente força de expressão…) pela formação de professores?

AA

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