Avançar para o conteúdo principal

A CHRISTMAS CAROL – Jim Carrey


Sou um grande apreciador de Charles Dickens. Com argúcia inata para a crítica e caricatura social, o escritor de Oliver Twist e Copperfield chega ao cinema 3D no seu A Christmas Carol. Nesta animação 3D, o dedo de Dickens está por toda a parte. Na intriga surgem os seus temas favoritos: a miséria, a ignorância, os traumas pueris, a clivagem entre classes, a avareza dos que tudo tem, mas são infelizes e a felicidade dos que nada tem.

Na cenografia mais parece que foi o próprio Dickens quem realizou e montou esta animação pois superabunda o gosto do autor por perspectivas aéreas, momentos de retrato das personagens, contextos e ambientes e claro está não poderiam faltar as obsessões predilectas deste escritor pelos telhados londrinos com as suas chaminés, assim como relógios, talvez dois dos ícones que melhor representam a Revolução Industrial. Falando ainda das obsessões não poderiam faltar as menções, alusões e o visionamento das prisões, escolas, hospícios, orfanatos e as temíveis e famigeradas Workhouses vulgo Casas de Correcção.

Não querendo deslindar muito mais este conto de natal deixo apenas o reparo de que a classificação etária da animação – M6 – talvez não seja a mais adequada, pois o fervor penitencial com que Dickens apresenta o Jesus natalício – com uma coroa de espinhos –, assim como o mórbis hardcore que envolve o "Espectro da Morte" e ainda todas as referências culturais e sociais que têm lugar, penso que estão longe de encantar a mente e os sentidos dos petizes.



Nada mais a acrescentar. Só falta pôr os óculos 3D e imergir na envolvência do ambiente e das personagens da Londres Vitoriana.


CA

Comentários

Mensagens populares deste blogue

THE BREAKER – Little Big Town

Little Big Town , sinónimo de pura melodia, acústica exuberante e harmonia entusiasta, características musicais simples – difíceis de criar ou alcançar – correspondentes ao estilo de som despretensioso, quase de cariz artesanal, pautado pelo equilíbrio e polivalência rítmica, atributos que transformam o cantar em autêntico carrossel existencial, animado pela dinâmica intrínseca à lucidez dos acordes, ao movimento e reciprocidade transmitidos nas vozes, pel o pulsar vitalista da percussão a par da vibração anímica do contrabaixo, pela prosa espontânea e nostálgica sugerida no tom das guitarras. As interpretações rubricadas por Little Big Town (LBT) sublimam a vida, imprimem motivações ao quotidiano, glorificam as perceções afetivas, aprimoram a inteligência emocional, divertem ou aconchegam os sentidos, apelam à genuinidade das amizades e, sobretudo, à candura dos relacionamentos amorosos, valências antropológicas na forma de canções que sustentam a asser

TABOO – Tom Hardy

Taboo – estreia em televisão, desde 7 de janeiro – representa o drama de época de estilo gótico sobre a luta de James Keziah Delaney contra os interesses da Coroa Inglesa – sob a regência e posteriormente reinado de Jorge IV – retratada enquanto império comercial ultramarino prepotente, através da atividade da Companhia Inglesa das Índias Orientais, no início do séc. XIX.  A mini-série é protagonizado pelo ator Tom Hardy, mais conhecido por interpretar o malfeitor Bane, no filme da trilogia Batman, The Dark Knight Rises (2012) . P roduzida e transmitida pela BBC, no Reino Unido, e difundida pela FOX, nos EUA , c onta com o realizador Ridley Scott entre os produtores executivos. Taboo oferece dilemas morais de personalidades controversas enquadradas no ambiente histórico sombrio que equipara a East India Company a uma multinacional oportunista, tentacular e sanguinária, a qu al subjuga e exerce domínio comercial e militar mundiais, através de amplas redes de espionag

ALMOST 40 - Reflexão

Ser quase quarentão é assim mesmo, meio na ternura, meio na dureza! O proto quadragenário vive oxímoro. A sua realidade é tanto melíflua quanto frívola, o equilíbrio perfeito entre olhos e barriga! Aparentemente blasé , o quarentão to be experimenta, sensualiza e entrega-se de corpo e alma às antinomias da paixão, desde a platónica à vanilla e hardcore .  No seu etos e apetites noir , busca temperos certos, frui momentos picantes, alinha tanto nas tapas como nos beijos, mas sabe que nem tudo é banquete, alguns sabores não valem mordiscar, são indigestos!  No seu arco de personagem, o vetero trintão escolhe ritmos, vibrações, evita tédio, aprimora o fade in e fade out . Desinibido, deprecia quer a aparência, quer a essência. Vívido, nem quantifica, nem qualifica, procura e acrescenta valor! Intimista, declina a labilidade dos grupos, amizades e colegas, enfoca a autodeterminação a par da cumplicidade interpessoal. Descomplexado, degusta o swirl de mixed emotions oferecido pelas viv