Avançar para o conteúdo principal

OBAMA: A NOVIDADE FEITA DE HISTÓRIA – (Crónica)


Nunca a Novidade e o Histórico se interligaram e caminharam de mãos dadas como na actualidade. Não deixa de ser um paradoxo que algo ou alguém seja simultaneamente novo e antigo, ou não será assim? Mas essa irmandade tem produzido resultados provados e comprovados constituindo uma autêntica chave de ouro para abrir portas fechadas e reabrir portas outrora entreabertas.

Novidade significa novo, algo ou alguém que existe há pouco tempo, que é visto, feito ou ouvido pela 1.ª vez, inaudito, algo que é recente. Na gíria e linguagem informal pululam diversos sinónimos para novidade, a saber: "último grito"; "estar na berlinda"; "última moda"; "berra”; "em voga". Apesar de existirem todos estes termos chamo apenas a atenção para um sinónimo peculiar de novidade: Notícia.

Por direito e mote próprio, Histórico significa algo ou alguém que é consagrado ou mencionado pela História, ou que irá ficar registado para a História como marco de novidade em relação a tudo o que a História já viu, fez e ouviu.

Hoje em dia parece que se faz a História antes dela ter lugar ou acontecer. No filme de Steven Spielberg, Minority Report – protagonizado por Tom Cruise e Colin Farrell nas personagens principais – figura o neologismo de Pré-Crime. Será que nos nossos dias vai nascer a Pré-História? Não a que fala das origens jurássicas do Mundo e do Homem mas sim aquela que descreve e caracteriza o seu momento presente e futuro… Assim parece ser e acontecer nos dias que correm. Anuncia-se determinado dia, evento ou acontecimento como Histórico, no sentido de que ficará registado como algo de diferente de tudo o que já ocorreu na História, portanto trata-se de uma novidade. Como ficou sugerido e assim sendo a História aufere hoje do valor de presente e futuro. Mas se a História é o estudo do Homem e das suas actividades no tempo e espaços do passado, como é que pode ser presente e futura?

Afinal os presságios apocalípticos de Francis Fukuyama no seu livro escatológico – The Final of Story and the Last Man – não se consumaram, pelo contrário a História está mais do que nunca bem viva e de boa saúde. Nos dias de hoje a História passou a ser novidade, que é o mesmo que dizer notícia. Louvada seja Clio e abençoado seja Heródoto.

Já para os Annales esse panegírico não pode ser endereçado às diferentes gerações que compuseram esse movimento. Destaco os Patriarcas fundadores Marc Bloch e Lucien Febvre. Estavam absolutamente enganados. Com efeito a renovação da História não passava pela Nouvelle Histoire/Nova História. Para se renovar a História precisava apenas de si e do seu valor intrínseco que se consubstancia no facto da História comportar e ser Histórica. Em verdade vos digo que o Homem de hoje necessita e precisa da História Novidade e não da História Antiguidade. Precisa do Histórico: uma História que não está morta nem fala do passado, mas que está viva e que faz parte do hic e nun, do momento presente como marco de novidade, legado e herança para o futuro.

Vejamos alguns exemplos concretos:
O Homem chegou à Lua; é novidade e histórico! "Um pequeno passo para o Homem, um grande passo para a História da Humanidade" O Homem ultrapassou a barreira e velocidade do som: novidade e histórico! O Homem construiu e enviou sondas espaciais: novidade e histórico! O Homem descobriu o átomo: novidade e histórico! O Homem descobriu a física quântica: novidade e histórico! O Homem descobriu a energia nuclear: novidade e histórico! O Homem produziu a bomba atómica e ulteriormente de hidrogénio: novidade e histórico! O Homem descobriu a micro-biologia e genética: novidade e histórico! O Homem descobriu a nano-tecnologia: novidade e histórico! Exemplos mais tradicionais: O Homem conseguiu voar descobrindo a aviação; O Homem conseguiu caminhar sobre as águas descobrindo a navegação, assim como mergulhar nas suas profundezas descobrindo a propulsão subaquática e tecnologia submarina; O Homem consegue estar em vários sítios ao mesmo tempo tendo descoberto as telecomunicações e as NTIC e Internet. Tudo isto é novidade e histórico!

Termino com o assunto mais mediático. Barack Obama é eleito o 1.º presidente negro dos Estados Unidos da América: é novidade e histórico! Se bem que não é de todo compreensível que tal candidato tenha ganho a corrida para Washington DC com um discurso e forma de estar assente na mudança como meio e solução para superar a actual conjuntura de crise. Pelos vistos, agora quem promete e anuncia a mudança ganha eleições, granjeia apoiantes e seguidores, alcança fama e sucesso.

Como Historiador não posso deixar de rir visto que a mudança e a crise são duas constantes do devir Humano, fazem e farão sempre parte da História Universal. A mudança e a crise são patentes registadas da História, e quem as anuncia ou serve-se delas não passa de plagiador e prevaricador que se apropria indevidamente de tal capital, activo e património...
Barack Obama conseguiu desse modo que a América e o Mundo voltassem os olhos para si. Génio ou usurpador e plagiador? Nem uma coisa nem outra. Servindo-se do lastro e caminhando na peugada de I Have a Dream… de Martin Luther King, o novo presidente dos EUA limita-se a ser o que é: um Professor e Historiador na área dos Estudos das Relações Internacionais. Está tudo dito e esclarecido.
Fazendo parte do establishment e da comunidade de sacerdotes de Clio está devidamente creditado e pode sem dúvida ou receio algum anunciar, prometer e falar de mudança: «WE CAN BELIEVE IN CHANGE», «CHANGE CAN HAPPEN»

Mas se não mudar nada pelo menos é de salientar a mudança estética e de figurino do novo inquilino da White House. Essa mudança de tónus já ninguém lha furta. Resta saber se terá por correlato e sequência a mudança de ónus. Seja como for Obama já é Histórico e G. W. Bush passou à História… E pronto, por enquanto a História fica completa e será recordada como Barack Obama sendo o 1.º presidente negro na Casa Branca.

CA

Comentários

Mensagens populares deste blogue

THE BREAKER – Little Big Town

Little Big Town , sinónimo de pura melodia, acústica exuberante e harmonia entusiasta, características musicais simples – difíceis de criar ou alcançar – correspondentes ao estilo de som despretensioso, quase de cariz artesanal, pautado pelo equilíbrio e polivalência rítmica, atributos que transformam o cantar em autêntico carrossel existencial, animado pela dinâmica intrínseca à lucidez dos acordes, ao movimento e reciprocidade transmitidos nas vozes, pel o pulsar vitalista da percussão a par da vibração anímica do contrabaixo, pela prosa espontânea e nostálgica sugerida no tom das guitarras. As interpretações rubricadas por Little Big Town (LBT) sublimam a vida, imprimem motivações ao quotidiano, glorificam as perceções afetivas, aprimoram a inteligência emocional, divertem ou aconchegam os sentidos, apelam à genuinidade das amizades e, sobretudo, à candura dos relacionamentos amorosos, valências antropológicas na forma de canções que sustentam a asser

TABOO – Tom Hardy

Taboo – estreia em televisão, desde 7 de janeiro – representa o drama de época de estilo gótico sobre a luta de James Keziah Delaney contra os interesses da Coroa Inglesa – sob a regência e posteriormente reinado de Jorge IV – retratada enquanto império comercial ultramarino prepotente, através da atividade da Companhia Inglesa das Índias Orientais, no início do séc. XIX.  A mini-série é protagonizado pelo ator Tom Hardy, mais conhecido por interpretar o malfeitor Bane, no filme da trilogia Batman, The Dark Knight Rises (2012) . P roduzida e transmitida pela BBC, no Reino Unido, e difundida pela FOX, nos EUA , c onta com o realizador Ridley Scott entre os produtores executivos. Taboo oferece dilemas morais de personalidades controversas enquadradas no ambiente histórico sombrio que equipara a East India Company a uma multinacional oportunista, tentacular e sanguinária, a qu al subjuga e exerce domínio comercial e militar mundiais, através de amplas redes de espionag

ALMOST 40 - Reflexão

Ser quase quarentão é assim mesmo, meio na ternura, meio na dureza! O proto quadragenário vive oxímoro. A sua realidade é tanto melíflua quanto frívola, o equilíbrio perfeito entre olhos e barriga! Aparentemente blasé , o quarentão to be experimenta, sensualiza e entrega-se de corpo e alma às antinomias da paixão, desde a platónica à vanilla e hardcore .  No seu etos e apetites noir , busca temperos certos, frui momentos picantes, alinha tanto nas tapas como nos beijos, mas sabe que nem tudo é banquete, alguns sabores não valem mordiscar, são indigestos!  No seu arco de personagem, o vetero trintão escolhe ritmos, vibrações, evita tédio, aprimora o fade in e fade out . Desinibido, deprecia quer a aparência, quer a essência. Vívido, nem quantifica, nem qualifica, procura e acrescenta valor! Intimista, declina a labilidade dos grupos, amizades e colegas, enfoca a autodeterminação a par da cumplicidade interpessoal. Descomplexado, degusta o swirl de mixed emotions oferecido pelas viv